Redução dos juros indica ceticismo com o crescimento da economia

O Copom confirmou as expectativas e reduziu a Taxa Selic. Bom para o Tesouro Nacional, que vai desembolsar menos reais para pagar a dívida pública brasileira. Por outro lado, a nova queda revela desconfiança com o crescimento da economia em 2020

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Foto: Orlando Brito

Ao promover mais uma rodada de redução da taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) formalizou seu voto de desconfiança sobre as expectativas de crescimento do Brasil em 2020 feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Na primeira reunião do ano, o Copom derrubou a Taxa Selic de 4,5% para 4,25%% ao ano.

A condição para redução da taxa Selic é de que os preços neste ano não vão pressionar a inflação por falta de poder de compra da massa salarial. Os indicadores de atividade industrial e o efeito do coronavírus sobre as exportações para a China também indicariam que a economia vai continuar andando de lado.

Isso tudo sem falar nos milhares de desempregados, inadimplência nas operações de crédito e baixa arrecadação. Sem aumento de consumo, a inflação tende a cair em relação ao atual patamar, o que permite a prática de juros mais baixos.

Economia em ritmo lento abre espaço para queda de juros.

Efeito retardado

Embora o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tenha dito que a principal missão da instituição que preside seja manter a inflação dentro da meta, a redução dos juros é de grande ajuda aos objetivos de Paulo Guedes de crescimento da economia.

Como a transmissão da redução dos juros leva cerca de 6 meses para chegar em todas as operações de crédito, os aliados do governo do presidente Jair Bolsonaro terão também um bom argumento para convencer seus eleitores nas vésperas das próximas eleições municipais. Isso porque é possível que os benefícios desta queda de juros possam ser percebidos em algumas operações de crédito, como o do financiamento da casa própria.

O ministro Paulo Guedes, da Economia, e o presidente Jair Bolsonaro – Foto: Orlando Brito

Isso tudo, caro leitor, são conjeturas sujeitas a imprevistos e erros de estimativas das autoridades monetárias, como ocorreu no final de 2019 quando o BC reduziu os juros para 4,5%, por acreditar que a inflação ficaria na casa dos 3,75%. Só que o comportamento dos preços da carne e outros alimentos fez com que a inflação apurada no ano passado ficasse em 4,31%.

Para onde vai o dinheiro

Com inflação neste patamar, a remuneração da caderneta de poupança e outros investimentos tiveram rendimento real negativo. O poupador perdeu dinheiro, e vai continuar perdendo em 2020 com esta nova rodada de redução de juros.

Muitos investidores estão correndo ao mercado de ações em busca de um rendimento. O risco de perda é grande, basta ver que os investidores estrangeiros estão deixando a bolsa ao entenderem que se a economia não cresce as ações das empresas não devem se valorizar.

Menos juros, menos dívida pública

Economista Mansueto de Almeida, secretário do Tesouro Nacional – Foto: Orlando Brito

Agora, se há um beneficiário imediato e direto deste processo é o Tesouro Nacional ao realizar a rolagem de sua dívida com taxas de juros menores. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, já está dizendo que a dívida se estabilizou.

Hoje, ele está em 75,8% do PIB. Os investidores observam mais a capacidade de um País  honrar sua dívida do que propriamente o valor total devido. Basta ver os Estados Unidos, que, apesar da dívida muito elevada, não têm problema com os credores.

No caso do Brasil, o mais relevante é a redução de gastos com a reforma da Previdência Social, o que deverá contribuir para a melhora do ajuste fiscal. Se o Governo conseguir reduzir os gastos nos próximos anos e obter superávit primário nas contas públicas terá como honrar os compromissos de juros da dívida pública.

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