Líder em todas as pesquisas eleitorais, nos cenários em que o ex-presidente Lula (PT) não é apresentado como opção, o ex-capitão do Exército e deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato do PSL à presidência da República causa calafrios em certos segmentos da opinião pública, da mídia e, finalmente, começa a levar extrema preocupação aos representantes de partidos que vão do espectro de centro-direita à extrema-esquerda. Não é à toa.
Pesquisa divulgada esta semana pelo Poder360, a maior já realizada pelo site, com 10.500 entrevistas, revelou que Bolsonaro não para de crescer, ao contrário do que previam seus opositores e alguns analistas políticos, que imaginavam que ele já havia batido no teto de 20% das intenções de voto, e que, com o decorrer do tempo, desgastado, cairia para menos de 17%.
Só que no DataPoder360, ele aparece entre 21% a 25%, conforme os nomes apresentados na simulação, melhor resultado obtido até agora. Segundo o levantamento, Bolsonaro venceria todos os adversários no segundo turno, por ampla margem. Isso se eleição fosse hoje.
Mais uma vez, a meses das urnas, o mais importante nessas pesquisas é observar as tendências. No entanto, o fato é que o controverso parlamentar da direita (acusado de ser homofóbico, misógino, incentivador do estupro, defensor do regime militar e da tortura, contrário aos interesses de indígenas e quilombolas etc.) está se saindo muito bem na foto, galgando a cada dia que passa mais destaque nas redes sociais, onde angariou milhões de seguidores fanáticos.
Ele tem o mais alto índice de fidelidade entre todos os candidatos: 77% de seus eleitores dizem que votarão nele com certeza. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou, em entrevista, acreditar que Jair Bolsonaro será desconstruído e, com poucos recursos e sem tempo na propaganda “gratuita” no rádio e TV, morrerá na praia, ficando fora do segundo turno. Há controvérsias.
Enquete com investidores, promovida pela XP Investimentos, e divulgada hoje, traz outra percepção: para 48% dos entrevistados, Bolsonaro está com a mão na taça. Em abril o favorito era Alckmin, com o mesmo patamar de 48%.
Até que faz certo sentido. Candidatos de centro se acotovelam e amargam resultados pífios nas pesquisas. Mantida a atual tendência, sem mudanças significativas de temperatura e pressão, e se Bolsonaro conseguir evitar declarações desastrosas, ele tem boas chances de estar entre os dois finalistas do pleito. A euforia é tanta nas hostes bolsonaristas, que já tem gente apostando que ele leva a eleição já na primeira fase de escrutínio.
Tamanho otimismo poderá ser aferido a partir do dia 8 de outubro. Sempre é lembrado que, por muito menos do que “o mito” direitista já disse no passado longínquo e recente, Ciro Gomes (então no PPS, hoje no PDT), favorito no início de 2002, não pagou nem placê quando outubro chegou. Amargou um quarto lugar no primeiro turno, atrás de Lula, José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (então no PSB, hoje no PRP).
Todavia, Jair Bolsonaro vem crescendo em todas as regiões do País, principalmente no Nordeste e no Sudeste. Aparece empatado com Geraldo Alckmin em São Paulo, apesar dos oito anos de governo do tucano. Não por outro motivo, Alckmin passou a atacá-lo e tenta conquistar algumas de suas bandeiras. Ontem, anunciou o nome do general da reserva João Camilo Pires de Campos para elaborar seu programa para a área de Segurança.
Ciro Gomes também subiu bastante o tom. Durante sabatina, nesta quarta-feira, no Correio Braziliense, ele chamou Bolsonaro de “tresloucado, boçal, despreparado e câncer” a ser extirpado.
É sempre assim. Quem está na frente leva chumbo de todos os lados. Foi o que aconteceu com Marina Silva (REDE) em 2014. Em agosto daquele ano, cientistas políticos no Brasil e no exterior projetavam suas chances de vitória em 80%. Deu no que deu. Marina não chegou nem sequer ao segundo turno. As questões vitais que se colocam hoje são, se eventualmente for eleito, Bolsonaro obterá maioria no “novo” Congresso (leia aqui texto sobre a expectativa para a renovação do Parlamento)? Conseguirá governar? Terminará seu mandato? E quais seriam os seus planos, afinal?
Bem, no campo econômico, já foi indicado o economista Paulo Guedes como seu provável ministro da Fazenda. Resta saber se, caso empossado, ele teria mesmo respaldo para implantar suas ideias liberais. Por exemplo, a de um amplo processo de extinção e privatização das empresas estatais. Bolsonaro diz ter sido seduzido pelos ideais do liberalismo. A conferir.
Especialistas, como os irmãos Abraham e Arthur Weintraub, professores da Universidade Federal de São Paulo e diretores do Centro de Estudos em Seguridade (CES), foram convidados para colaborar com o programa de governo, que deve ser anunciado antes da eleição, bem como toda a composição do ministério, sem indicações partidárias. Entre as tradicionais receitas de estratégia política há a máxima de que as eleições para a presidência são como um violino ― “você pega com a esquerda e toca com a direita”. Será que Bolsonaro é canhoto? Pouco provável.
Ontem, durante a sabatina do Correio, ele afirmou ser contra a criação de novos impostos sobre heranças e grandes fortunas, conforme defendeu Ciro Gomes no programa Roda Viva, da TV Cultura; e prometeu reduzir a carga pesada tributária para as empresas.
Nos bastidores, a equipe de Jair Bolsonaro prega a implosão de dezenas de ministérios, desaparelhamento e redução do Estado, quebra de sigilo dos empréstimos oriundos da caixa preta 2 do BNDES, fim dos privilégios, tais como salários acima do teto constitucional, com ações judiciais visando à devolução de recursos. Certamente ele não conseguiria governar sozinho, como nenhum presidente até hoje conseguiu desde a redemocratização, neste atual e podre sistema de coalizão que se estabeleceu, sabe-se bem como. Contudo, Bolsonaro diz que contará com o apoio da hoje desalentada e desmobilizada população brasileira; e, em decorrência da pressão popular, do Congresso a ser eleito.
A verdade é que, se por ventura Bolsonaro vier a subir a rampa do Planalto e entregar metade do que vem prometendo, haverá uma hecatombe nacional. Em várias frentes, a partir dos partidos de centro, encastelados nos cofres da Viúva, da esquerda, de castas do funcionalismo público, dos movimentos LGBT, dos defensores dos direitos humanos e de vários outros setores e organizações. Nesse cenário, visto de hoje longe de ser desprezível, certamente pode-se imaginar dias ainda mais conturbados no início de 2019. Na pesquisa da XP, com esse quadro apresentado, 31% dos investidores previram queda da Bolsa; 45% a subida do dólar; e 44% a taxa Selic juros acima de 8% no fim do ano que vem. Por todos esses e outros motivos, não sem razão, já tem muito mais gente, além do mercado financeiro, colocando as barbas de molho.
Ibsen Costa Manso