As incertezas sobre a dimensão do impacto da covid-19 na atividade produtiva e nas contas públicas têm imobilizado a equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, apesar de ter prometido, não apresentou até o momento um plano de recuperação da economia que possa estimular a retomada do crescimento de forma organizada e sustentável.
A injeção de recursos feita pelo Banco Central para dar liquidez às instituições financeiras e a ajuda financeira feita pelo Tesouro Nacional as populações mais necessitadas cumpriram o papel de evitar um desastre maior no País. Isto, no entanto, está muito longe de garantir a volta à normalidade e qualquer indicação de retomada de emprego e renda, condições fundamentais para ativar o consumo e a produção da indústria.
Ao contrário, como informou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, nesta última semana, uma parte significativa do dinheiro liberado à população ficou depositado nos bancos e não foi para o consumo. Grande parte dos recursos liberados aos bancos, da mesma forma, não foram tomados em empréstimos pelo setor produtivo, pelos mais variados motivos, como a falta de garantias e até mesmo os custos das taxas de juros que continuam elevadas.
A falta de informações seguras sobre o que está ocorrendo na economia – embora o BC seja a instituição que tenha o mais amplo número de dados estatísticos de tudo que ocorre no setor produtivo e mercado financeiro-, levou Roberto Campos Neto a dizer que a autoridade monetária ainda não está segura sobre o comportamento da inflação. É que com a covid-19, a premissa de que injeção de moeda na economia poderia virar mais inflação pelo aumento do consumo não está ocorrendo. O aumento ou queda da inflação é que indica se as taxas de juros vão cair ou aumentar do atual patamar de 2,25%.
Há ainda um fenômeno que vem sendo observado na Europa, Estados Unidos e mesmo no Brasil, que diante da crise as pessoas, em especial os de mais idade, preferem guardar o dinheiro do que consumir. Como as taxas de juros foram reduzidas em todos estes países, inclusive no Brasil, os recursos estão sendo aplicados nas bolsas de valores na expectativa de maiores ganhos, diante das perdas de até 47% no valor das ações.
A maior parte destes recursos em nada ajuda a melhorar o faturamento das empresas. É apenas uma operação contábil de bilhões de recursos que passam pelas mãos dos ganhadores e perdedores da bolsa. O preocupante é que, como deverá ser fraco o resultado dos balanços das empresas, os preços atuais das ações devem cair, trazendo grandes prejuízos aos investidores , o que pode se concretizar em uma crise no mercado financeiro.
Diante disso, Paulo Guedes ainda está devendo seu plano para recuperação da economia, o que poderia dar estímulos e confiança a fim de que os recursos disponíveis dos mais ricos seja destinado ao consumo. Isto iria contribuir para gerar empregos, mais produção, novos investimentos e impostos para o governo.
Tudo indica que Guedes continua apenas pensando em como vai resolver a brutal dívida pública que deve chegar a casa dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB) com as novas medidas de ajuda as pessoas desamparadas. O anúncio de que vai vender quatro grandes empresas estatais é uma indicação de sua preocupação com a redução da dívida, o que pode contribuir para melhorar o ambiente para investidores, em especial os estrangeiros.
Só que este tipo de visão fiscalista dificilmente vai contribuir para reanimar o setor produtivo. É preciso criatividade da atual equipe econômica para fazer com que os escassos recursos públicos sejam aplicados no setor produtivo e possam abrir um novo ciclo virtuoso para a economia.