Com experiência de quem acompanha o cenário político brasileiro há 32 anos, eu diria, antes de mais nada, que falta um grande líder entre as forças políticas de centro no Brasil. Isso justifica a divisão entre as diferentes correntes de centro nas eleições de 2018, permitindo a polarização da disputa entre os extremos.
Ainda que essa polarização tenha sido decidida por uma lógica inversa ao que se espera numa eleição: venceu quem tinha menos rejeição que o adversário. Aliás, uma lógica que pode se repetir. Ainda que o resultado possa ser diferente.
Segundo pesquisa do Ibope divulgada pela coluna do jornalista Ancelmo Góis do GLOBO, 43% dos brasileiros não votariam no PT de Lula de jeito nenhum. E 50% dos brasileiros não votariam no PSL, legenda deixada na semana passada por Bolsonaro, em hipótese alguma.
Dependendo da rejeição
O centro pode ser favorecido, mesmo sem um grande líder, se algum instituto de pesquisas descobrir quantos desses brasileiros citados acima não pretendem votar no PT e nem no PSL de jeito nenhum.
Se esse percentual for elevado, isso sim abriria espaço para uma opção longe dos extremos, desde que o nome ungido pelas forças de centro mostre um projeto minimamente equilibrado e potencial eleitoral para acabar com a polarização vigente.
Mas resta saber se as forças de centro vão conseguir chegar a um consenso mínimo, capaz de viabilizar de fato uma candidatura competitiva num ambiente hostil à política tradicional, vinculada a maior parte das legendas que atuam nesta faixa ideológica.
Outro desafio imposto ao escolhido do centro será encarar a artilharia pesada da qual certamente virará alvo dos seguidores tanto de seu adversário à esquerda, como à direita. Sobretudo, se esse nome representar de fato uma ameaça.
As recentes lágrimas da ex-líder governista Joice Hasselmann (PSL-SP), vertidas da tribuna da Câmara, são emblemáticas e mostram que o jogo pelo poder é bruto, exige couro duro.