Os milagres do futebol

Os bolsonaristas sabem que esta é a última semana para manter a mobilização em frente aos quarteis. Com a estreia do Brasil na Copa do Mundo muitos patriotas devem assistir aos jogos em casa

Abertura da Copa do Mundo no Catar - Foto Reprodução Instagran
A Fifa anunciou que nenhuma bebida alcoólica será vendida nos jogos da Copa do Mundo

Neste domingo foi aberta oficialmente a Copa do Mundo do Qatar ou Catar, como queiram. Além do período diferente –  normalmente as competições são realizadas no meio do ano-, outra novidade este ano são as proibições impostas pelo governo do país sede. A que vem causando maior mal-estar não apenas entre os torcedores que viajaram para assistir as partidas, mas aos patrocinadores da Copa, é a proibição do consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos e até de propagandas nos estádios.

Novidade nenhuma para quem tem um conhecimento mínimo sobre o Oriente Médio. Afinal, o Qatar é uma monarquia absolutista conservadora, de maioria islâmica e com regras rígidas e estranhas aos ocidentais. Assim, muitos torcedores terão que se contentar em comemorar a vitória do seu país a base de água ou refrigerante.

Para nós brasileiros, no entanto, a Copa começa mesmo na quinta-feira, quando o Brasil fará sua estreia jogando contra a Sérvia, às 16h, horário de Brasília. Dizem os entendidos em futebol, confesso não ser o meu caso, que não será um jogo fácil, mas como a seleção costuma passar com relativa facilidade pela primeira fase, a grande torcida não é só pela vitória nos campos, mas pelo milagre da pacificação do Brasil, depois de uma eleição extremamente polarizada e do inconformismo dos perdedores.

É sabido que o esporte opera milagres. As vezes individualmente na vida dos atletas, ou coletivamente, em situações pontuais. Em 1969, um amistoso entre o time do Santos, do rei Pelé, e uma seleção da região do centro-oeste de Benin City, na Nigéria, fez cessar a guerra civil.

O amistoso não fazia parte da programação inicial da excursão para a África, mas o governo da Nigéria fez o convite ao Santos que aceitou o desafio. A turnê deveria ter acabado alguns dias antes, na cidade de Maputo, em Moçambique, na época chamada de Lourenço Marques. O jogo fez a guerra ser suspensa. Todos queriam ver o rei do futebol em ação.

Outro episódio que demonstra o poder do futebol no mundo, esse já mais recente, foi um amistoso da Seleção Brasileira em 2004, contra a Seleção do Haiti, logo após a conquista da Copa América. Os haitianos enfrentavam problemas políticos, terremotos e outras tragédias. O Exército brasileiro liderava a força de paz da ONU no país da América Central.

Amistoso da Seleção Brasileira em 2004, contra a Seleção do Haiti – Foto Arquivo CBF

A passagem da Seleção Brasileira foi um balsamo para o sofrido povo haitiano. Em Porto Príncipe, capital do Haiti, houve uma verdadeira comoção no trajeto de 5 quilômetros que os jogadores percorreram do aeroporto até o estádio.

A esperança é que mais uma vez o futebol faça o milagre. Que cessem os bloqueios nas estradas sem a necessidade de intervenção judicial, que os acampados em frente aos quarteis sejam tomados pela alegria da vitória e voltem para suas casas, para acompanhar com mais conforto os jogos da Seleção Canarinho.

Bolsonaro sabe que a Copa pode desmobilizar seus seguidores, cansados de tanto esperar por uma reviravolta. Já são mais de 20 dias de espera. Não por acaso, o PL dará sua última cartada, entrando com um pedido junto ao TSE para desconsiderar os votos de cerca de 250 mil urnas de modelos anteriores a 2020.

Presidente do TSE, Alexandre de Moraes – Foto Flickr/@tsejusbr

Até as emas do Alvorada sabem que a possibilidade de o Tribunal, presidido pelo ministro Alexandre de Moraes, acatar o pedido são remotíssimas. No entanto, Bolsonaro e seus aliados querem manter a mobilização viva e ativa, talvez para que o presidente possa garantir mais que um salário e uma boa casa, conquistado junto ao seu partido. Quem sabe nesse período da Copa, Bolsonaro consiga uma anistia para ele e seus filhos, evitando que respondam perante à Justiça (extremamente atacada durante o seu mandato) pelos seus erros de malfeitos nos quatro anos de governo.

Acho que esse tipo de milagre a Seleção não faz!

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