O governo e instituições privadas ainda não têm a dimensão do estrago provocado pelo coronavírus na economia, tendo em vista o tempo necessário para por fim a pandemia. Com dados parciais sobre redução de vendas, de produção, emprego e renda, que podem ser ainda piores dependendo os próximos meses de isolamento social, o Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal estimou um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,3% este ano.
Já o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, estima uma queda de 8%. São números que serão atualizados para pior.
A comparação de atividade no comércio e serviços entre a primeira semana de março e abril reforçam as previsões feitas sobre redução do PIB. As vendas no varejo caíram 24,9%, o setor de serviços encolheu 51,8%, a venda de vestuário teve queda de 51,8% e bens duráveis de 40,5%.
O enfraquecimento da economia, com redução da arrecadação de impostos e a necessidade de liberação de recursos públicos para atender as populações pobres e empresas em dificuldades levará a um déficit primário equivalente a 7% do PIB, coisas nunca vistas nas últimas décadas.
Contas no vermelho até 2030
O impacto do coronavírus sobre as contas públicas deverá afetar permanentemente a dívida pública até 2030, que deve subir para 84,5% do PIB este ano e vai a 100% do PIB em dez anos. Ou seja: diante das fragilidades fiscais dos últimos governos, o vírus provocou um estrago de grande magnitude nas contas públicas.
O governo federal não quebra pelo poder que tem de emitir dívida e moeda, coisa que todos os países do mundo estão fazendo. Durante muitos anos o Brasil trabalhou com metas de superávit primário e estratégias de formação de reservas internacionais para enfrentar crises econômicas.
Quando Antonio Palocci esteve a frente do ministério da Fazenda todas as metas de superávit primário foram cumpridas e, inclusive, chegou a defender que fosse zerado o déficit nominal, que incluía o pagamento de juros. A visão desenvolvimentistas do ministro Guido Mantega, sem cuidado com lado fiscal, contribuiu para a atual situação fiscal de déficit primário. Caso o país tivesse sido prudente os com gastos públicos, teria agora muito mais espaço fiscal para gastar e, em consequência, poderia dispor de recursos de investimento para o processo de recuperação da economia.
Agora terá que vender suas empresas estatais na bacia das almas e utilizar parte das reservas para cobrir o rombo fiscal. As maiores vitimas de erros na condução das políticas fiscais anteriores serão os menos favorecidos.
Mais desempregados
A IFI estima que deve subir de 11,9% para 14,1% o números de desempregados. Renda dos sortudos que tiverem empregos vai cair. Os dados sobre massa salarial indicam que este ano deve cair 5,2%, quase no mesmo patamar do encolhimento da economia.
O leitor atento está se indagando sobre os benefícios de bilhões de recursos do Tesouro Nacional e do Banco Central. Em condições normais a injeção de moeda na economia poderia estimular o consumo e até provocar aumento de preços de mercadorias.
Com a redução da atividade de produção de bens, seu efeito deve ser nulo. A perda de renda dos consumidores, por outro lado, deve provocar uma redução da inflação.
Os economistas da IFI acreditam que o IPCA deve cair em 2020 para 1,7%. Diante disso, o Banco Central deverá reduzir para 2% a taxa básica de juros na tentativa de amenizar os efeitos da crise. Juros assim, nunca foram vistos no Brasil. Como instrumento monetário de estimulo a retomada do crescimento deve ter efeitos limitados.