Com 123 requerimentos de impeachment protocolados na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro coleciona o maior número de petições contra ele em relação aos últimos presidentes. Collor teve 29 pedidos de impedimento apresentados ao Congresso; Itamar apenas 4; FHC 24; Lula 37, Dilma 68 e Temer 31.
O problema nem é a quantidade de petições, mas a longa lista de crimes imputados ao presidente da República, listados no documento apresentado nesta quarta-feira ao parlamento. Ao todo somam 23 infrações, que vão desde atentar contra o livre exercício dos Poderes, passando por abuso de poder, prevaricação diante das denúncias de aquisição fraudulenta da vacina Covaxin e omissão quanto à denúncia de corrupção no Ministério da Saúde.
São fatos graves e o requerimento é robusto. E embora conte com o apoio de políticos dos mais diversos matizes – vão desde representantes do PSOL, PT, PDT, PV, MST, MBL e até ex-bolsonaristas como Joice Hasselmann e Alexandre Frota – a petição parece não ter mudado a opinião do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que não há motivos para impeachment.
Único com poder de fato para dar prosseguimento ao processo contra o presidente da República, Lira deve continuar mantendo os mais de 120 requerimentos engavetados. Assim, além de garantir mais força junto ao Executivo e ao próprio Legislativo – estará sempre com uma espada apontada para cabeça de Bolsonaro-, ele sabe que essa posição não irá prejudicar sua reeleição.
Afinal, parlamentares como Lira, Ciro Nogueira e tantos outros que compõem o Congresso e estão há anos no poder, sabem que a reeleição independe do governo que apoiam. O que importa para seus eleitores é a verba que conseguem levar para os municípios das suas bases eleitorais e o apoio do prefeito. A disputa política nacional pouco afeta suas candidaturas e o poder político na região. Infelizmente, ainda é assim que a coisa funciona.
Além disso, Lira e os líderes do Centrão sabem que a opção a Bolsonaro é o general Mourão, que não tem a mínima habilidade política para negociar. Ao longo desses dois anos e meio como vice, Mourão manteve-se distante do Congresso, alheio às articulações e disputas políticas. Esse talvez seja o maior trunfo de Bolsonaro para se manter no poder e garantir mínimo de 172 votos para impedir a abertura do impeachment.
Se o script se mantiver até as eleições do próximo ano, teremos um presidente agonizando em praça pública. Bolsonaro será a Geni da campanha, que levará pedra e bosta dos concorrentes e até mesmo dos atuais aliados, como na bela canção de Chico Buarque. Todos, sem exceção, vão tentar encarna o antibolsonarismo.
Até lá, o Centrão vai sugar o quanto puder das verbas e cargos do governo federal. Ruim para o Brasil? Péssimo. Nada pior que um presidente pato manco, refém de deputados como Arthur Lira & Cia, mas não vejo grandes possibilidades de mudança, pelo menos a curto prazo. Posso até estar sendo pessimista ou fatalista, mas a esperança de que o impeachment saia do papel é mínima.
O único risco de se manter um maluco feito Bolsonaro no poder é que, acuado, desande a falar e fazer besteiras e com isso consiga de fato o apoio dos militares – seja das FFAA ou das PMs – para tentar se manter no poder a qualquer custo. O que hoje não parece plausível.
As tentativas não param. Nesta quarta-feira, durante evento em Ponta Porã–MS, diante das acusações de corrupção no Ministério da Saúde, investigadas pela CPI da Pandemia, ao invés de tentar se explicar, Bolsonaro voltou a exortar as Forças Armadas a apoia-lo afirmando que“ só ter paz e tranquilidade porque temos as Forças Armadas comprometidas com a democracia”.
É prática comum incensar os militares sempre que se vê encalacrado em alguma situação. A questão é que, até a intervenção no Ministério da Defesa e o arquivamento do processo contra o general Pazuello por participação em ato político, ninguém levava muito a sério esse tipo manifestação do presidente. Agora, é preciso que as instituições fiquem alertas. E bem alertas.