O grande e sempre saudoso poeta José Chagas eternizou a ponte que ligaria o centro de São Luís ao São Francisco, num poema que até hoje é lembrado e ganhou lugar na literatura maranhense. João Cabral de Melo Neto, outro grande e dos maiores da poesia brasileira, conhecia o poema e certa vez me disse: “Sarney, o poema do Chagas da ponte é um raro momento épico da poesia brasileira.”
É que a ponte, mesmo antes de existir, era motivo de propaganda dos governos que me antecederam. E a ponte não existia, mas era real na comunicação daqueles governos. Chagas, de tanto ouvir badalação sobre a ponte inexistente, fez um poema “O Caso da Ponte do São Francisco”, que tomei de empréstimo para título deste meu artigo de domingo, interrompendo uma série da História recente do Maranhão.
O motivo é que a ponte que não existia, mas que quando Governador tornei realidade, agora, em 2019, completou meio século, 50 anos, data redonda — e as datas redondas são mágicas.
No poema do Chagas ele dizia: “Quando a maré vaza, a ponte vaza / Quando a maré enche a ponte enche.” Segundo ele, mesmo sem a ponte existir, havia uma grande discussão sobre qual a cor de que devia ser pintada. E concluía: “Com pincel comprido ou curto / Pinte-a seja como for / Se a ponte é feita de furto / Pinte a ponte furta-cor.”
No nosso programa de renovar a capital, estava no plano fazê-la. Mas eu não falei nada nos dois primeiros anos, porque sabia que, se falasse, ia haver uma especulação para comprar as terras do outro lado. Quando começaram as primeiras movimentações para construir a Ponte do Caratatiua — que depois também fui eu quem fiz —, os encarregados do governo anterior antes das obras compraram as terras. No São Francisco só o engenheiro que previu que a ponte era a expansão natural da cidade, a primeira coisa que fez foi comprar as terras onde possivelmente seria localizada a ponte. Eu — e ninguém ressalta isso —, na seriedade e honestidade com que administrava, guardei o segredo e procurei comprar todas as terras do outro lado para o Governo do Estado, isto é o IPEM, e só depois da transação, feita pelo advogado Kleber Moreira com o antigo proprietário da fábrica Gamboa Francisco Aguiar, anunciei a Ponte. Alguns amigos meus ficaram zangados e me cobraram que eu não tinha avisado para que eles fizessem um grande negócio! Assim sempre me comportei como homem público.
Então corremos contra o tempo. Em dois anos fizemos projeto e construção. Em 1970, janeiro, inauguramos a Ponte, cortando a fita a filha do Marechal Castelo Branco, Dona Antonieta, nossa amiga, que representou o pai, já morto e que muito ajudara o Maranhão.
Essa Ponte, a que lei proposta pelo Governador Dino deu o nome de José Sarney, mudou São Luís.
Preservou a cidade velha e construímos, em 50 anos, na margem esquerda do Rio Anil, uma nova cidade, que hoje tem 300 mil habitantes, moderna, bonita, com acesso às praias. Assim, posso dizer, fundamos uma nova cidade, a São Luís moderna, hoje uma das mais bonitas do Nordeste.
— José Sarney é ex-presidente da República, ex-senador, ex-governador do Maranhão, ex-deputado, escritor da Academia Brasileira de Letras