MDB perdeu a batalha, mas a guerra é longa. Renan Calheiros renunciou à candidatura à presidência do Senado. Se não conseguiu encarnar o “herói”, aquele que ultrapassa todos os obstáculos, vai assumir o papel do “vilão”. Será o líder da oposição ao governo Bolsonaro.
Ao notar que perderia a disputa, preferiu virar o jogo e se cacifar na trincheira oposta. Depois de ter acenado ao governo que seria um fiador das reformas, pode agora vestir o figurino do “velho Renan”, aquele que, no governo Temer, trabalhou contra a nova legislação trabalhista e as mudanças nas aposentadorias.
Será difícil para o governo refazer pontes com Renan depois da interferência do ministro Onyx Lorenzoni na tumultuadíssima eleição na Casa e da decisão de Flávio Bolsonaro de declarar o voto em Davi Alcolumbre.
Renan sai bastante desgastado da disputa, que durou dois dias e acabou no STF. Ecos da “nova política” levaram os senadores a brigar pelo voto aberto na eleição, minando suas chances. Alcolumbre virou a opção mais fácil para tirá-lo do páreo. Mas a “nova política“, de fato, ainda é um cenário distante no Congresso — a não ser que o reality show permanente em que se transformou o plenário, com dezenas de celulares registrando cada minuto para redes sociais, possa ser chamado de modernidade.
Com a eleição de Alcolumbre o DEM, antigo PFL, partido herdeiro da Arena, retoma um protagonismo perdido há quase duas décadas. Comandará também a Câmara, com Rodrigo Maia, e tem três representantes no Ministério Bolsonaro. Em 2010, num comício da campanha eleitoral de Dilma Rousseff em Joinville (SC), o então presidente Lula afirmou que era preciso “extirpar” o DEM da política nacional. Dias antes do fim da legislatura passada, um integrante do partido fez ecoar uma espécie de grito de guerra numa reunião da bancada: “Esse governo (Bolsonaro) é nosso!” Parece que acertou.