O ministro da Justiça, Sergio Moro, passou do ponto de não-retorno em sua opção por uma trajetória política com o vazamento, pelo The Intercept, das conversas impróprias com Deltan Dallagnol e integrantes da força-tarefa da Lava Jato. Entre uma aparição no programa do Ratinho e a ida à marcha dos evangélicos em São Paulo, irá nesta quarta-feira à CCJ do Senado tentar se explicar. A persona do juiz já ficou lá atrás, e é como político que Moro terá que entrar no bateu-levou com os senadores.
Moro irá à CCJ a seu pedido, numa operação articulada pelo governo para tentar esvaziar os pedidos para criação de uma CPI destinada a investigar as conversas e seu vazamento. Em princípio, portanto, uma manobra de salvamento.
Mas, assim como ocorre com as CPIs, depoimentos no Senado nós sabemos como começam, mas nem sempre como terminam. Basta lembrar de alguns ex-ministros que chegaram ao Senado seguros e confiantes e de lá saíram demitidos. Não é comum, mas acontece.
Senadores de oposição estão reunidos hoje para estudar perguntas e traçar estratégias. Moro deve estar recebendo seu media-training, com dicas também dos assessores parlamentares governistas. Afinal, ele passou a vida se comunicando nos autos e não é bom de discurso.
O fator decisivo para o desempenho do ex-juiz, porém, poderá ser uma nova leva de conversas a serem vazadas pelo Intercept entre hoje e amanhã, com mais diálogos indecorosos mostrando a articulação entre o então juiz e os acusadores do ex-presidente Lula na Lava Jato. O que já saiu até agora é bastante grave, mas conhecido e discutido. Sob o fator surpresa, novas revelações poderiam deixar Moro sem resposta. No mínimo, teriam um efeito midiático.
O governo Bolsonaro, que resolveu politizar as coisas e apoiar seu ministro da Justiça, teve bastante sucesso na criação de novas crises que, inevitavelmente, disputaram espaço com o escândalo da Vaza-Jato nos últimos dias. Mas este será o principal espetáculo da quarta-feira. Já comprei a pipoca.