Mudança na Fundação Palmares gera embate de evangélicos e afroculturalistas

Mais do que a mudança de direção, a troca de comando da Fundação Palmares gera um embate entre crenças e movimentos

Sérgio Nascimento Camargo

Conflito religioso no radar. Um subproduto das mudanças anunciadas nas áreas de políticas identitárias na administração púbica, iniciada com a mudança de comando da Fundação Palmares, poderá acirrar as relações habitualmente tensas e, às vezes, violentas entre evangélicos e religiões de matriz africana.

O novo presidente da Palmares, Sérgio Nascimento de Camargo, é adversário aberto das ideologias identitárias que são reconhecidas pela administração púbica no Brasil.

A reversão do movimento negro vai dar o que falar. Começa com a troca de orientação na Fundação Palmares, entidade mater da recuperação da identidade africana na formação do Brasil. Depois, outras partes desse movimento devem ser atacadas pela ala ideológica do novo governo, retirando apoios, reconhecimento oficial, verbas e algumas regalias. Esta é a perspectiva neste momento.

Briga além-mar

Neste segmento da rivalidade religiosa entre evangélicos e seitas afroculturalistas, as disputas não se restringem ao território brasileiro. As religiões brasileiras de orientação pentecostal com sede no Brasil vêm liderando uma forte expansão na África como um todo, onde enfrentam a hostilidade das seitas muçulmanas e do cristianismo convencional (anglicanos, católicos e protestantes). Além-mar, as ditas religiões de inspiração animistas, como candomblé e vudu, não atrapalham os missionários brasileiros, pois nos países africanos estão desaparecidas, figurando apenas como identidade folclórica.

Fundação Palmares, na Serra da Barriga – Foto: Agência Brasil

A primeira reação já foi vigorosa em todos os meios, da mídia às instituições ligadas à cultura, história e todos os influenciadores da opinião pública. No entanto, isto parece apenas reforçar o ânimo dos conservadores, como demonstram outras ações nesse sentido – caso dos embates com ambientalistas, indigenistas e na orientação da política cultural.

Por outro lado, os conservadores dizem não temer reações efetivas, pois avaliam que os movimentos identitários não detêm a força política que se lhes atribui. Não obstante as estatísticas apresentarem números expressivos, até majoritários, os situacionistas dizem que os movimentos racialistas não têm a expressão política relevante nas bancadas de parlamentos.

Ao contrário das corporações, religiões e outros estamentos, suas representações especificas são praticamente nulas nos parlamentos. Muito barulho, que não será do couro dos tambores.

Deixe seu comentário