Cresce dentro do PT um movimento silencioso para tentar tirar o comando do partido das mãos da deputada Gleisi Hoffmann e trocar a retórica do Lula Livre por um discurso político mais consistente e com propostas concretas que se contraponham ao governo Bolsonaro.
Por causa da insistência no discurso do Lula Livre, o partido tem deixado de explorar o extenso material fornecido diariamente pelo governo e Jair Bolsonaro e perdido o time nas discussões políticas.
A eleição para a nova diretoria do PT está prevista para o mês que vem. O vencedor comandará o partido pelos próximos quatro anos. Ou seja, o futuro presidente do partido será o responsável pela condução das eleições municipais de 2020 e presidenciais de 2022.
Esse fato tem tirado o sono de muitos petistas, que consideram Gleisi um verdadeiro desastre na condução do partido. Com pouca habilidade política, ela tem criado situações constrangedoras para o partido.
Semana que vem a direção nacional do PT se reúne em São Paulo para definir, entre outras coisas, a eleição de junho. Alguns petistas querem adiar a discussão até achar uma saída para o impasse.
O grande dilema é encontrar alguém com coragem para enfrentar o ex-presidente Lula e convencê-lo a tirar Gleisi da presidência. Lula é, sem sombra de dúvida, a maior liderança do PT e, mesmo preso há mais de um ano, ainda consegue ser maior que o próprio partido. Por isso, ninguém tem coragem de contraria-lo.
Há algumas semanas os senadores Humberto Costa e Jaques Wagner foram até Curitiba para falar sobre as atitudes de Gleisi à frente do partido e pedir uma solução ao ex-presidente. Saíram de lá desanimados. Lula não quis nem ouvir os argumentos.
A insatisfação com a deputada só cresce nas hostes do partido e já atinge todas as correntes petistas. Ninguém consegue discutir nada com ela. Há cerca de duas semanas, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, escreveu uma carta, distribuída aos companheiros, alertando sobre a situação do partido.
Entre outras coisas ele afirmou que o discurso “Lula Livre se esgotou como palavra de ordem. Essa propaganda precisa ser urgentemente transformada em um robusto movimento político” diz.
Para Edinho, que foi ministro da ex-presidente Dilma Rousseff, é preciso que o PT faça uma ampla construção política aglutinando setores políticos e sociais que vão além da esquerda. O que não acontece hoje em dia. O partido ficou isolado no Congresso na formação dos blocos parlamentares.
De forma discreta, o ex-deputado José Dirceu também tem participado do movimento contra Gleisi Hoffmann. Em reuniões com companheiros de partido, uma delas na casa de amigos na Vila Planalto, traçou um cenário de dificuldades para o PT por falta de nomes que possam mobilizar o eleitorado na disputa presidencial de 2022.
O ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado do PT à presidência da República, Fernando Haddad, poderia ser esse nome, não fosse o boicote promovido pela deputada Gleisi Hoffmann.
A caravana pelo Brasil anunciada no inicio deste ano pelo PT, tendo Haddad como principal estrela, é um dos exemplos da má vontade da presidente do partido com o ex-prefeito. As viagens teriam início pelo Nordeste, mas no primeiro evento, em Fortaleza, o ex-prefeito desistiu do programa por falta de apoio do partido.
Na semana passada, Haddad esteve em Brasília para reuniões com os deputados e senadores do PT, mas a direção nacional do partido não fez qualquer anuncio para a imprensa sobre a presença do ex-prefeito, que circulou anônimo pelos corredores do Congresso.
Por causa disso, Haddad tem se sentido desestimulado. Instado por colegas de partido a disputar a presidência do PT, ele deixou claro que só aceitaria se fosse aclamado. Não quer encarar uma disputa, principalmente depois da negativa que recebeu de Lula.
Enquanto a maioria dos petistas acredita que o partido precisa mudar o discurso, Lula tem estimulado cada dia mais uma postura agressiva dos dirigentes. Até mesmo nas lideranças do partido no Congresso ele tem influenciado.
Ao contrário do Senado, a escolha da liderança do PT na Câmara é feita a partir de um rodízio entre as correntes do partido. Desde o ano passado estava decidido que o líder seria o deputado Paulo Teixeira, com um perfil mais conciliador. Lula, no entanto, exigiu que a liderança fosse entregue ao deputado Paulo Pimenta, tão pitbull quanto Gleisi.
É por essas e outras que o PT vive hoje um dilema shakespeareano: ou enfrenta Lula, seu maior líder político, e tira Gleisi do comando do partido. Ou espera o partido se afundar diante dos destemperos da sua presidente.