Livro resgata biografia do Almirante Tamandaré

O Almirante Tamandaré é o menos festejado dos três patronos das Forças Armadas do Brasil. Lançamento da LP&M, a obra de Alcy Cheuiche, aqui resenhada, resgata a história deste "velho marinheiro", como ele queria ser conhecido na posteridade

Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré

Aqui Jaz um Velho Marinheiro é o texto singelo da lápide do patrono da Marinha do Brasil, Marquês de Tamandaré, como ele pediu que a pedra fosse assinada, simplesmente com as iniciais M.T. Nada mais adequado à trajetória do almirante Joaquim Marques Lisboa, vivida integralmente no tombadilho de navios, distante dos gabinetes das pompas do poder.

Tamandaré, o Patrono da Marinha do Brasil

A vida deste marujo, de aventuras navais e construção do Brasil, foi resgatada em mais uma obra literária pelo escritor Alcy Cheuiche, que recém lançou, pela Editora L&PM, um livro com a biografia romanceada desse herói nacional. Com um texto criativo e ágil, de fácil leitura, o autor reconta, como numa fábula narrada pelo próprio personagem, os melhores momentos da história desse marinheiro que singrou os sete mares tripulando, pilotando e, por fim, comandando as principais belonaves da armada brasileira.

O menos lembrado dos patronos das Forças Armadas brasileiras, Tamandaré ainda está na memória de muita gente que lembra de sua efígie na cédula de dois cruzeiros, e menos por seus feitos para construir e sustentar a independência do Brasil nos seus momentos mais decisivos. Entretanto, ele foi um homem do mar, um navegador, menos presente nas mídias de seu tempo e do futuro que seus parceiros no panteão dos heróis básicos: Caxias , o patrono do Exército, comandou exércitos e venceu batalhas, mas também foi deputado (pelo Maranhão), senador (pelo Rio Grande do Sul), presidente de províncias (governador) e três vezes primeiro-ministro; Santos Dumont foi, em vida, um verdadeiro “pop star” internacional, o homem que voava, em Paris, o centro do mundo naquela ”belle époque”, uma figura tão charmosa quanto foram os astronautas dos anos 1960/70, nos tempos das viagens espaciais à lua.

O escritor Alcy Cheuiche

Já Tamandaré fez seu nome no tombadilho dos navios, na fumaça das batalhas, nas refregas das abordagens, distante dos holofotes, como hoje se diria. Entretanto, seu legado ainda está por ser reconhecido maciçamente, quando o brasileiro médio souber o que foi a nossa Marinha nos primeiros 100 anos da vida independente do País.

Esse livro de Alcy Cheuíche, simples, atraente, bem escrito e empolgante, resgata a figura humana de Joaquim Marques Lisboa e sua disposição para o combate armado e a habilidade como marinheiro e comandante de belonaves em batalhas e tempestades.

Nesse livro o autor desmonta a versão de que o patrono da Marinha apoiou o golpe republicano de 1889, que derrubou Dom Pedro II do trono. Manifestação monarquista relevante, depois de proclamada a República, eram seus elogios à atitude do almirante Luís Felipe Saldanha da Gama, morto em combate terrestre em Campo Osório, em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, liderando uma carga de cavalaria.

Tamandaré lembrava que, em 15 de novembro, Saldanha encontrava-se em missão oficial nos Estados Unidos. Se estivesse no Brasil, afirmava, as coisas teriam sido diferentes, pois ele teria resistido ao golpe de Deodoro da Fonseca, dizia a amigos, impedindo a queda de Dom Pedro II. Outra manifestação monarquista foi sua disposição para seu funeral, em que determinou como última vontade, ser enterrado envolvido numa bandeira nacional, esclarecendo que seria naquela sob a qual combateu em tantas guerras, ou seja, o velho pendão dos tempos da a monarquia.

Outro testemunho de seu monarquismo, é o desmentido de autoria da frase que se atribui a Tamandaré de aceitação da proclamação da República. Ele teria dito: “O que está feito, está feito. Agora vamos tratar de consolidar a República”.

Esta frase, repetidamente atribuída à Tamandaré, foi veemente desmentida por sua filha Maria Eufrásia na cerimônia de inauguração de sua estátua, no Rio, pelo presidente Afonso Pena. Disse a filha Maria Eufrásia: “Meu pai deixou por escrito, em documento assinado, que jamais disse essas palavras”.

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