Depois de quase dois meses, parece que finalmente governo, ambientalistas e parlamentares acordaram para o drama que assola a costa brasileira.
Esta semana, o derramamento de petróleo no litoral do Nordeste virou a principal pauta dos inflamados discursos de deputados e senadores. Também foram criadas uma CPI e uma Comissão Externa para investigar o caso. Não resolve nada, mas cria barulho e manchete.
Por sua vez, o Greenpeace, uma das maiores ONGs de defesa do meio ambiente do mundo, – que até pouco tempo tinha sua atenção voltada apenas para a Amazônia- resolveu entrar na briga em defesa do litoral nordestino. Acusou o governo de inépcia fazendo um protesto em frente ao Palácio do Planalto na última quarta-feira.
Já o governo, que parecia alheio aos fatos, resolveu se movimentar. Infelizmente da forma errada. Tirando a Marinha, que assumiu o controle das investigações para saber de onde vem tanto óleo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro partiram para o ataque às ONGs e à oposição.
Salles entrou em cadeia de rádio e TV para anunciar que o governo vai recorrer à OEA para pedir explicações ao governo da Venezuela. Não satisfeito, ainda publicou acusações contra o Greenpeace no twitter insinuando que eles seriam responsáveis pelo derramamento de óleo. Tomou uma dura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mas não baixou a crista. Vai ser processado pelo Greenpeace.
Antes de Salles, Bolsonaro, da Ásia, já havia feito esse tipo de insinuações sem qualquer prova. “No mínimo estranho o silêncio de ONGs e esquerda brasileira sobre o óleo nas praias do Nordeste. O apoio desses partidos ao ditador Maduro fortalece a tese de um derramamento criminoso”, escreveu no twitter.
Além de atrasadas, as reações não resolvem o problema. Apenas atiçam ainda mais a briga ideológica. Parece que o Bolsonaro está preocupado apenas em falar aos seus eleitores.
O presidente não deve ter se dado conta da gravidade da situação. Embarcou para Ásia sem antes ir ao litoral nordestino para ver de perto os estragos causados pelo petróleo. Uma atitude politicamente errada. Em 2015, Dilma Rousseff foi duramente criticada por ter demorado uma semana para visitar Mariana em Minas Gerais, após o acidente com a barragem da Vale.
Por causa dessa falta de ação, o governo virou o alvo preferencial de políticos, ambientalistas e da própria população. O eterno presidenciável Ciro Gomes não deixou por. Acusou Bolsonaro de “se vingar” dos nordestinos por ter perdido a eleição nos nove estados. Para ele, a questão é meramente política.
Talvez Ciro tenha razão. A relação do presidente com os governadores da região nunca foi boa. Mas há também um tanto de incompetência e falta de visão política nessa inação. Não é agindo assim que vai conseguir ganhar a simpatia da população nordestina, ao contrário, pode até perder apoio no resto do país.
Enquanto o governo não assume sua responsabilidade, o Nordeste enfrenta uma grave crise ambiental com praias, rios, mangues e santuários ecológicos inundados de óleo.
O prejuízo ambiental é incalculável, mas incalculável também será o prejuízo para a saúde dos milhares de voluntários que, não aguentaram ver a inércia do poder público, colocaram a mão no óleo para limpar as praias.
O outro prejuízo que já se vislumbra é o econômico. De acordo com pesquisa do Ministério do Turismo, o litoral nordestino é o destino preferencial de 75% dos turistas brasileiros. Nesta época do ano, hotéis, restaurantes e o comércio local ficam lotados de visitantes.
O acidente aliado à crise financeira pode esvaziar as cidades turísticas e derrubar a já combalida economia da região.