Guedes faz discurso pra inglês ver, enquanto economia real derrapa

Inédita e grave crise energética, disparada descontrolada de preços, juros impeditivos, crise fiscal. Investidores norte-americanos ouviram o ministro brasileiro da Economia expor um Brasil irreal

Para Paulo Guedes, ministro da Economia, o Brasil vai bem e está pronto para atrair investidores

As expectativas sobre a recuperação da economia pioram a cada dia por falta de soluções para conter a aceleração de preços, resolver a crise grave na geração de energia, além de encontrar verbas para pagar precatórios e atender a população que vive abaixo da linha da pobreza.

O conjunto destes itens que estão sob a mesa do Ministro da Economia, Paulo Guedes, é sinal do grau de dificuldades da atual equipe econômica em lidar com coisas pontuais, sem falar com medidas macroeconômicas destinadas a estimular a  retomada do crescimento da economia.

Paulo Guedes não conseguiu colocar em prática seu receituário liberal da escola de Chicago e sequer hoje tem a sua disposição  instrumentos kenesyanos de estímulo à economia, mesmo que desejasse.

A economia está à deriva. Paulo Guedes, em conversa com investidores dos Estados Unidos, continua fazendo o discurso do Brasil como oportunidade de investimentos pelo potencial do retorno do capital investido, sem qualquer preocupação de dizer como a inflação será controlada e a que custo de taxas de juros, de estagnação da economia, desemprego e miséria. Como se esta parte da população que está comendo o pão que o diabo amassou não irá às urnas em 2022 e que depende dela para que ele continue à frente da economia do Presidente Jair Bolsonaro.

Auxílio-Brasil, Petrobras, precatórios 

O presidente Bolsonaro lança o Auxílio-Brasil, programa que visa substituir o Bolsa Família

Com esgotamento dos espaços de endividamento público, o destino dos recursos públicos arrecadados  é uma batalha travada entre grupos de interesse no Congresso Nacional. A criação do Auxílio Brasil,  que exige recursos de R$ 61,2 bilhões em 2022, para elevar o benefício dos atuais R$ 190,00 para R$ 300,00, destinado a pessoas de baixa renda, ainda está sem fonte orçamentária.

Jair Bolsonaro deu a ideia da União vender parte da sua participação acionária na Petrobras para bancar o programa. Isso é possível. Mas fica a dúvida. Não sendo uma fonte permanente de recursos como bancar os gastos nos anos seguintes. O melhor talvez fosse atrelar as receitas dos dividendos que o Tesouro Nacional recebe da Petrobras ao orçamento do Auxílio Brasil.

Há ainda uma necessidade de encontrar um meio de levantar R$ 89 bilhões para pagamento dos precatórios, já que tendência da arrecadação de impostos não é boa. Pela estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB), só deve crescer o equivalente a 1,5% em 2022.

Preços descontrolados

Se estas duas pedras no caminho atrapalham, imagine como Paulo Guedes vai conseguir controlar um forte viés de alta de preços de forma generalizada neste momento finais da pandemia. O aumento dos preços do petróleo em todo o mundo e somado à seca que elevou os preços das tarifas de energia no Brasil são fatores muito difíceis de serem controlados com aumento de taxas de juros. Isso sem falar do potencial do dólar valorizado sobre todos os preços da nossa economia.

A solução para este grave quadro econômico não é simples no Brasil e outros países. Economistas monetaristas ou kenesyanos estão se dando conta de que são necessárias medidas heterodoxas para tirar a economia mundial do buraco que entrou com a pandemia ao desorganizar várias cadeias produtivas.

A escassez de alimentos e o aumento dos preços do petróleo, energia e gás têm trazido impacto em todos os países. A inflação de 12 meses no Estados Unidos é de 8,6% e da China de 10,7% pelo mesmo critério, duas das grandes economias mundiais. No caso do Brasil a situação ainda é muito pior. Temos inflação na casa dos 10%, desequilíbrio fiscal elevado, câmbio desequilibrado, desemprego recorde e política monetária restritiva com uma escalada de aumento de juros afetando crédito e consumo. O pior é que nos falam que são bons formuladores de política econômica, como tivemos no plano real, e experientes gestores da máquina pública.  

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