Filhos enxeridos, pedras nos sapatos de presidentes

Filhos... Filhos? Melhor não tê-los (Poema Enjoadinho, Vinicius de Moraes)

O presidente Jair Bolsonaro posa ao lado de 01, 03 e 02

Fermez la femme (cale a esposa) diziam os aliados do ex-presidente Costa e Silva quando declarações de sua mulher, Dona Yolanda, começaram a gerar fatos políticos indesejados e incontroláveis. Isto parece se repetir com os filhos do presidente Jair Bolsonaro, desde que se confirme que o autor do post desastrado contra o Carnaval é de autoria de seu filho Carlos, o operador de suas redes sociais.

Seja o que tenha sido, o presidente assinou embaixo.

Vale o que está escrito, dizia o bordão do jogo do bicho, considerada a máxima de maior credibilidade do léxico nacional nos velhos tempos, quando a “loteria zoológica”de drogas, e não o tráfico internacional, comandava a então amena criminalidade carioca.

Conde D’Eu

O Conde D´Eu e a Princesa Isabel

As famílias dos presidentes foram desde sempre a pedra no sapato do mandatário. O genro de Dom Pedro II, o príncipe francês Conde D’Eu, era atacado abertamente pelos militares e esse antagonismo seria uma das causas da queda do império.

Getúlio Vargas

Na República Velha não há registros de filhos nem genros poderosos. Só vamos encontrá-los na Revolução de 1930, com os irmãos, filhos e acólitos do presidente Getúlio Vargas.

A figura mais notável foi sua filha Alzira, verdadeira conselheira e articuladora política até o último dia de vida do ex-presidente. Mas havia outros: seu filho Lutero, deputado federal pelo antigo Distrito Federal, e o genro, almirante Ernani do Amaral Peixoto, governador do Estado do Rio e chefe político do MDB moderado até a redemocratização, em 1985.

Além disso, havia a sobrinha Ivete Vargas, chefe do PTB em São Paulo. Sem falar dos irmãos Protásio e o irmão mais moço, Benjamin Vargas, o Beijo, arruaceiro no Rio de Janeiro, onde dava tiros em público e costumava praticar a “golden shower” sobre o pano verde das mesas de roleta dos cassinos cariocas. Tudo impunemente.

Redemocratização

Benjamin Vargas

Os presidentes seguintes tiveram filhos expostos, mas nada que se aproxime do trio do Clã Bolsonaro. Os mineiros Juscelino Kubitschek e Itamar Franco só tinham filhas mulheres, avessas à política (embora Márcia, depois da morte do pai, tenha sido eleita senadora por Brasília).

Os presidentes militares tiveram filhos mais ou menos ativos. Entretanto, acabados os governos, submergiram e mesmo com a caça às bruxas nenhum foi perseguido.

Na redemocratização, os filhos dos presidentes pouco incomodaram. Os de Fernando Collor eram ainda crianças. O varão de Fernando Henrique foi molestado aqui e ali, mas nada muito grave. Com Lula foi pior um pouco.

Clã Bolsonaro

No atual governo, a família presidencial emerge com vigor. A diferença é que todos os filhos são políticos ativos, com mandatos parlamentares. Entretanto, aparecem com vigor fora dos plenários, como mentores ideológicos do pai.

Até o momento, porém, interferiram pouco na administração. A ver como será quando a caneta do capitão passar efetivamente a soltar sua tinta e pintar os papéis.

Vale acrescentar ao primeiro verso do poeminha o outro verso com a advertência do poetinha Vinicius: “Filhos, filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos como sabê-lo”.

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