Um mito ronda a Reforma da Previdência: teria sido Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, o salvador da aprovação da admissibilidade da PEC 6|2019, na CCJ da casa.
De fato, quando tudo parecia perdido e o fantasma de mais um adiamento começou a assombrar os mercados, Maia desceu até a sessão e garantiu que o Centrão, núcleo duro do superbloco que o reelegeu com 334 votos, aceitasse chancelar mais um passo na tramitação.
Ocorre que tudo parecia perdido para quem? Para o governo é que não era. O presidente considerou sua parte junto ao mercado cumprida ao encaminhar um projeto com o qual não se sentia confortável (o que todas as suas declarações históricas e recentes deixam claro). Prometeu autonomia a Paulo Guedes e entregou. Desde antes de enviar o projeto, diariamente negou a negociação à moda tradicional. Tanto quanto os congressistas a exigiam pela imprensa. Inclusive Maia, que, ao final da sessão, disse que o governo terá “agora” que trabalhar pela Reforma nas próximas fases. É evidente que Maia, habilidoso como é, a nova cara da política clássica, preparou a cena. Seus aliados embarreiravam, ele desatava o nó. Foi o que se passou.
Essa história só perde em criatividade para as avaliações de que a reversão da lei de acesso a dados ou a PEC do Super Orçamento Impositivo foram “derrotas” do governo. A última, deve ser dito, deu foi mais um discurso contra o “toma lá dá cá”, já que, no curto prazo (2020), os parlamentares passariam a ser os “donos” das emendas. E o “recado” foi tão mal enviado que, uma semana antes, houve uma grita geral porque Bolsonaro determinou a liberação de um 1 bi em emendas represadas sem olhar partidos e políticos. Exatamente o motivo da grita. Afinal, as regras sempre foram claras: “me ajuda que te ajudo”.
A suposta promessa do governo liberar 40 mi para todos que votarem pela PEC da Reforma da Previdência confirma muito mais o compromisso do comandante-em-chefe com a economia de 1 tri do que dos parlamentares, que publicaram que vão desidratar o projeto. A primeira ameaça foi uma inédita desidratação na própria CCJ, onde os carpetes sabem que se analisa a admissibilidade.
O jogo do parlamento é simples. Fazer prevalecer nos mercados e na imprensa que votou a Reforma pelo bem do país, “apesar do governo” e a incapacidade de “articulação política” (que Bolsonaro chama de negação ao “balcão de negócios”). Com a outra mão, dirá aos mais pobres que, apesar da responsabilidade fiscal, protegeu eles de pontos mais amargos. De sua parte, Bolsonaro deve se contentar em dizer que a Reforma precisa ser aprovada por patriotismo e não com métodos da “velha política”.
O indicador desta queda de braço pode ser o próximo ciclo de pesquisas que permitam comparar a confiança no presidente e a no Congresso Nacional.
Leopoldo Vieira é jornalista, analista político, especialista em Administração Pública e chefe executivo da Idealpolitik agencia de análise e assessoria