A proposta de reforma para os militares entregue pessoalmente por Bolsonaro ao Congresso Nacional jogou uma ducha de água fria na esperança de especialistas contavam com a aprovação rápida das mudanças na Previdência Social.
Ao fechar o texto da proposta com a equipe econômica, Bolsonaro permitiu a cota de sacrifício dos militares, diante do principal problema fiscal do país, seja de menos de 1% da que será exigida do restante dos trabalhadores do Brasil, sejam eles servidores públicos ou da iniciativa privada.
Podemos chegar a esse percentual levando como base a expectativa da equipe econômica de extrair, nos próximos dez anos, R$ 1,1 trilhão das despesas com aposentadorias de servidores públicos e do setor privado.
Durante o mesmo período, a proposta de reforma da Previdência dos militares prevê uma economia de R$ 97,3 bilhões. Desse total, R$ 86,65 bilhões serão usados para cobrir os reajustes concedidos à tropa por meio de adicionais de “habilitação” e “disponibilidade”, que privilegiam justamente aqueles de patente maior.
A primeira impressão de especialistas em Previdência é a de que alguns militares de alta patente possam acumular um aumento de quase 100%, enquanto seus subordinados receberão reajustes menores.
Vale lembrar que do déficit da Previdência Pública Federal, estimado hoje em cerca de R$ 98 bilhões, R$ 46 bilhões são gastos com 680 mil servidores públicos aposentados e R$ 42 bilhões com aproximadamente 300 mil militares da reserva.
A avaliação feita é que a proposta dos militares joga por terra o discurso de Bolsonaro e da equipe econômica, de que as mudanças nas aposentadorias teriam como foco o fim de privilégios e que todos os brasileiros dariam sua cota de sacrifício.
Além disso, dá munição para a oposição e mesmo integrantes da base governista que buscavam uma desculpa para não votar a favor da reforma da Previdência como um todo.
A previsão é de que as bolsas no país hoje poderão expressar a preocupação manifestada ontem à noite por especialistas em Previdência, somando-se a isso o resultado da última pesquisa do Ibope mostrando que a aprovação do governo Bolsonaro caiu 15 pontos desde a sua posse.
Trata-se de um índice inferior aos registrados por FHC, Lula e mesmo Dilma, no seu primeiro mandato, antes de completar 100 dias de governo.
Um cenário nada promissor para um governo que até agora não conseguiu organizar sua base parlamentar e tem dispendido muita energia com brigas internas, muitas vezes criadas pelo presidente, seus filhos ou aliados.
Só nos resta rezar para que o país sobreviva ao que está por vir.