Existe um axioma no meio político de que “o poder não admite espaço vazio”. Nos dias atuais essa máxima faz bastante sentido. O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, continua recluso, atordoado com as brigas familiares e a derrota nas urnas. Enquanto isso, o presidente eleito, que só assume o mandato dia 1° de janeiro de 2023, já circula com desenvoltura pelas hostes do poder tomando conta de todo espaço no noticiário político.
Bolsonaro ainda não deixou o cargo, mas, com sua ausência, praticamente já virou passado, inclusive entre seus principais aliados. As manifestações golpistas e a insistência dos bolsonaristas com a narrativa de fraude nas urnas vêm isolando ainda mais o presidente inclusive dentro do próprio Centrão. Nessa quarta-feira (9), viu seu principal parceiro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, receber Lula em sua residência oficial. Ao final do encontro, o anfitrião disse que vai ajudar a aprovar a chamada PEC da Transição, que possibilitará a continuidade do pagamento de R$ 600,00 para os beneficiários do Auxílio Brasil, que em janeiro volta a se chamar Bolsa Família, uma das promessas de campanha do PT.
Em retribuição, ouviu do petista a garantia de que o governo não vai interferir na eleição para a Mesa da Câmara. Lula sabe fazer política como poucos e nas visitas aos presidentes dos poderes – além de Lira, esteve com Rodrigo Pacheco, do Senado, e Rosa Weber, do Supremo-, buscou pacificar as relações. “Vim dizer às instituições que o Brasil vai voltar à normalidade”, afirmou durante coletiva logo após a visita ao presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, com quem havia se encontrado pouco tempo antes na visita que fez ao STF.
Aliás, a visita ao Supremo parece ter sido muito proveitosa para Lula. Além da tietagem na entrada do STF por parte de estudantes de direito que acompanhavam a sessão plenária, o presidente ainda recebeu de presente do ministro Gilmar Mendes, o decano da Corte, a liberação do dinheiro da previdência privada de D. Marisa Letícia – falecida em 2017 – que havia sido bloqueado pela Lava Jato, cerca de R$ 5,5 milhões.
O petista mostrou que, ao contrário de Bolsonaro, que alimentou muitos conflitos ao longo do mandato, pretende fazer uma gestão conciliadora e conquistar o máximo de apoio possível, inclusive do Centrão, base do atual presidente. “Não enxergo na Câmara dos Deputados e nem no Senado Federal essa coisa de Centrão. Enxergo deputados e senadores que foram eleitos e vamos trabalhar com eles”, afirmou. Com esse discurso é possível, antes mesmo do dia 1º de janeiro, que muitos já tenham trocado de lado.
Enquanto Lula se articula e ganha cada vez mais espaço entre os partidos com assento no Congresso, a última esperança de Bolsonaro para criar uma confusão foi pro espaço. A montanha pariu um rato e o tal relatório da Defesa, tão aguardado, concluiu que não houve fraude. Soou como piada de mau gosto.
Assim, Bolsonaro e os manifestantes devem começar a arrumar as malas e desocupar Brasília.
Boa viagem.