A economia está cheia de notícias ruins – nesta terça, o recuo de 0,7% do setor de serviços em março, o terceiro mensal seguido nos quatro meses e meio de governo Bolsonaro. Somando-se as quedas nos diversos setores, que vão rebaixando semanalmente as projeções do PIB, e a redução da confiança de consumidores, empresários e investidores às derrotas quase diárias no Congresso e ao isolamento internacional, já se tem uma receita de tempestade perfeita – recorrendo mais uma vez ao conceito certeiro do professor Delfim Netto.
E outros ingredientes estão se juntando na receita explosiva. O início da semana trouxe de volta ao cenário o sempre-vivo Caso Queiroz com a autorização de quebra de sigilo bancário do ex-assessor Fabrício Queiroz, do senador Flavio Bolsonaro e de mais 88 pessoas.
Essa medida tem amplitude tal – além do número de pessoas, abrange mais de dez anos – que, segundo se especula, as investigações sobre a relação com as milícias pode acabar atingindo muito mais gente, inclusive da família Bolsonaro.
Claramente incomodado, perdendo popularidade nas pesquisas, investindo contra seu próprio núcleo militar, colando-se cada vez mais à ala ideológica do governo e radicalizando o discurso, Jair Bolsonaro é fonte de preocupação geral. Diminuiu o tamanho de seu ministro da Justiça, hoje reduzido a postulante de uma vaga no STF.
Só falta um ingrediente nessa receita de tempestade: as ruas. Andaram caladas, até porque é quase impensável ter manifestações populares contra um governo que nem completou seis meses. Diante do conjunto da obra, e da coleção de decisões insensatas e inconsequentes, porém, podem começar a dar sinal de vida.
Conjunturas políticas não mudam do dia para a noite, mas é possível que este 15 de maio em que estudantes e professores programaram manifestações por todo o país sinalize um processo em marcha.