A escolha do deputado Federal Enio Verri (PT-PR) como diretor-geral da usina hidrelétrica de Itaipu Binacional, empresa que terá US$ 3 bilhões para investir no Brasil e no Paraguai em 2023, é indicação que o projeto de candidatura de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná para 2026 já está em andamento.
Gleisi Hoffmann (PR), deputada federal e presidente nacional do PT, venceu uma queda de braço com dois experientes políticos paranaenses e amigos pessoais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretendiam o cargo: o ex-diretor-geral da Itaipu, Jorge Samek (PR), e o ex-governador Roberto Requião (PR). A dupla formou uma chapa de governador e vice nas últimas eleições, em 2022, para dar palanque a Lula à Presidência da República. Os dois, por razões diferentes, acreditavam que receberiam o comando da empresa como prêmio de consolação.
Vitória tripla
Hoffmann conseguiu convencer Lula a escolher Enio Verri, político de confiança da dirigente do PT, para comandar Itaipu, mesmo com o apadrinhamento de Janja, a primeira-dama petista, em favor de Jorge Samek. Prevaleceu o projeto político local de Gleisi Hoffmann. Vitória tripla.
O economista e professor Enio Verri, de Maringá (PR), ganhou espaço na politica como aliado leal do então casal Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann. Enio Verri foi chefe de gabinete do então ministro Paulo Bernardo à frente da pasta do Planejamento. Com o afastamento das disputas eleitorais de André Vargas (PT) e Paulo Bernardo (PT) para a Câmara dos Deputados, Verri acabou herdando este eleitorado petista do norte do Paraná, o que lhe rendeu dois mandatos como deputado federal.
Carro elétrico
Verri, que também foi deputado estadual e secretário de Planejamento do governo de Requião, assume Itaipu para colocar de pé um ambicioso projeto de investimento em infraestrutura e energias renováveis com grande impacto econômico e político, uma espécie de contraponto à administração do atual governador paranaense, Ratinho Júnior.
A estimativa inicial é de que o lado brasileiro da maior hidrelétrica brasileira poderá dispor de US$ 1 bilhão ao ano para investir, de um total de US$ 3 bilhões que vão sobrar liquidamente no caixa da empresa graças ao fim do pagamento dos juros da dívida externa de construção da usina elétrica.
Parte deste valor, que equivale a R$ 5 bilhões, poderá ser usado para dar continuidade ao projeto de produção de automóveis, que seria desenvolvido por Itaipu: caminhões, ônibus e aviões de pequeno porte movidos à energia elétrica. Sobrarão ainda recursos para investimentos em projetos de infraestrutura com impactos significativos na economia do Paraná.
O projeto dos veículos elétricos foi uma parceria entre Itaipu e a KWO (Kraftwerke Oberhasli AG), que controla usinas hidrelétricas na região dos Alpes, na Suíça, construídas entre 2006 e 2016. Mas o projeto segue com outros parceiros, cujo objetivo é encontrar soluções de mobilidade elétrica que sejam técnica e economicamente viáveis, analisar seus impactos no sistema elétrico nacional e contribuir com novas tecnologias que minimizem os impactos ambientais no setor de transportes.
Diversos protótipos saíram do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem de Veículos Elétricos (CPDM-VE), construído dentro de Itaipu, no galpão G5, em parcerias com a Fiat, Renault, BMW, Agrale e Stola do Brasil, ACS Aviation, entre outras.
Energia solar
Existem, ainda, estudos para ampliar a capacidade de produção de energias limpas e renováveis, como a implantação de placas para geração de energia solar sobre o lago da usina. O potencial de produção de energia seria o equivalente daquele que se obtém com a água rodando as turbinas da usina. Assim, seria possível oferecer veículos elétricos com o custo de consumo de energia elétrica no valor total. O usuário do veículo não precisaria pagar pela tarifa de energia no processo de recarregamento.
O projeto mais ambicioso que envolveria os dois sócios de Itaipu (Brasil e Paraguai) é a construção de uma eclusa junto à usina para permitir a navegação de argentinos e paraguaios do rio Paraná. A obra daria grande competitividade no escoamento de soja, café e milho do Paraguai e do Brasil.
A usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, que pode dar uma ideia da complexidade da obra, foi feita com cerca de R$ 3 bilhões. Para fazer a eclusa será necessário criar um canal na rocha, um rio paralelo à usina.
No caminho de Ratinho Jr.
De olho também nos recursos da gigante de energia, empresários do setor agrícola e uma grande cooperativa miram a ampliação e melhoria das rodovias e ferrovias com destinos ao Porto de Paranaguá (PR), de São Francisco (PR) e Itajaí (SC). Se, em quatro anos, até as eleições de 2026, não será possível concluir todas estas grandes obras da usina, ao menos a pré-candidata ao governo do Paraná pelo PT terá uma marca e mensagem para este eleitorado de centro-direita, hoje na sua maioria todo ao lado de Ratinho Jr.
Com o afastamento de Enio Verri da Câmara dos Deputados quem irá ocupar sua vaga é o suplente do PT, Elton Weller, de Toledo (PR), importante região para as pretensões de partido. Além de ter emplacado seu pupilo Enio Verri no comando da Itaipu, Gleisi Hoffmann continua travando uma batalha para garantir mais espaços para aliados na direção da empresa, onde foi dirigente e conhece a importância da usina junto a todos os municípios que estão próximos ao lago e recebem royalties.
Uma nova disputa para indicação de diretor técnico de Itaipu acabou envolvendo a ex-presidente Dilma Rousseff e a então chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. É esperar para ver quem vai sair vitoriosa. O ex-ministro Paulo Bernardo poderá se juntar ao time principal de comando. É visto como um bom gestor e com capacidade de planejamento, coisas que fez como ministro do presidente Lula em dois mandatos.
Mágoa ‘requiaonica’?
No início de janeiro, o ex-governador Roberto Requião dava como certo que iria receber um telefonema do presidente Lula convidando-o para ocupar a diretoria-geral. O telefonema não ocorreu e o aliado ficou sabendo por terceiros do nome escolhido para presidir Itaipu. Requião, fiel aliado de muitas eleições de Lula, a quem trata como amigo pessoal, tem manifestado seu descontentamento público ao isolamento político a que foi submetido.
A explicação para a escolha de Verri, é de que Lula teria ficado magoado com Jorge Samek por nunca ter ido visitá-lo na prisão. Já com relação a Roberto Requião, é de que ele esteve apenas uma vez na sede da Polícia Federal em Curitiba, apesar de ter defendido o petista publicamente, fazendo duras críticas à condução da Lava Jato. Há, no entanto, a hipótese de que Lula tenha tomado decisões pragmáticas apostando na renovação dos quadros do PT, tendo uma mulher à frente de um projeto para reconquistar parte do eleitorado conservador paranaense, o qual mostrou sua cara nas ultimas eleições dando a vitória ao governador Ratinho Jr. e ao senador Sergio Moro.