A imagem da invasão à Praça dos Três Poderes em Brasília na tarde deste domingo chocou muita gente, mas não surpreendeu ninguém. Nada mais anunciado do que essa manifestação golpista e o vandalismo que se sucedeu na sede do Congresso, Palácio do Planalto e da Suprema Corte. O que realmente surpreendeu foi a inação dos poderes diante de um fato que vinha sendo anunciado há meses.
Desde novembro que manifestantes bolsonaristas, acampados em frente ao QG do Exército em Brasília, vinham ameaçando copiar os americanos na invasão ao Capitólio, ocorrida há exatos dois anos. O primeiro ensaio ocorreu na noite de 12 de dezembro, data da diplomação do presidente Lula, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, queimaram ônibus, carros e depredaram prédios públicos com total omissão da Polícia Militar do DF.
É simplesmente inacreditável que as autoridades não tenham usado inteligência para monitorar essa turma e seguir o dinheiro que financia os baderneiros travestidos de patriotas. Nem precisa de tanta inteligência assim. As redes sociais estavam cheias de informações indicando que poderia ocorrer uma tentativa de invasão ao coração do poder.
A nomeação de Anderson Torres – ministro da Justiça do governo Bolsonaro – para Secretaria de Segurança Pública do DF pelo governador Ibaneis Rocha parece ter sido a senha para que os golpistas seguissem com o plano de tocar o terror em Brasília com a garantia de que não seriam importunados. O governador do DF vai pagar caro por isso. A conta vai cair no seu colo.
O atual ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que havia pedido ajuda da Força Nacional de Segurança Nacional para garantir que não haveria invasão aos prédios públicos. Não foi suficiente. Talvez ele não tenha imaginado que a Polícia Militar iria facilitar a ação dos golpistas de invadir prédios públicos e vandalizar o Supremo, o Planalto e o Congresso.
Ao decretar a intervenção federal na Segurança Pública do DF, a resposta foi firme, mas tardia. O presidente Lula mostrou que não vai aceitar mais a conivência do GDF com as badernas golpistas. A AGU também entrou com pedido de prisão dos golpistas, incluindo Anderson Torres, demitido por Ibaneis para tentar minimizar os estragos. Torres se encontra nos Estados Unidos, com esse pedido de prisão deve permanecer por lá.
O Brasil nunca viveu uma situação tão grave em nenhum momento em sua conturbada história. Invasão, vandalismo, destruição e roubo de obras de arte e presentes de governos estrangeiros mostram que, além de terroristas, também cometem crimes comuns e que precisam ser punidos, com todo rigor, por toda essa penca de crimes.