Copa do Mundo, Economia e Eleições

Estamos a pouco mais de um mês da Copa do Mundo, com Seleção Brasileira já convocada e a imprensa passando a dar mais destaque para o assunto. Entretanto, chama atenção o desinteresse das pessoas, tanto nas ruas como nas redes pelo maior evento futebolístico do planeta. O que é no mínimo estranho, visto que o Brasil é considerado o país do futebol, e tem no esporte a preferência de grande parte da população.

    Buscando entender essa contradição, alguns tentam relacionar o fato com o momento político e econômico do país. Com desemprego alto, economia em desempenho fraco e escândalos de corrupção cercando a política nacional, os brasileiros estariam tão desanimados a ponto de não sentirem vontade ou satisfação de acompanhar futebol. Até a provável ausência de Lula, preso em Curitiba, nas eleições é citada como fonte de desalento.

Entretanto, os dados mais recentes mostram que o interesse do brasileiro pelo futebol vem aumentando. As rodadas finais do Brasileirão do ano passado foi o de maior audiência nos últimos 11 anos, enquanto as fases decisivas campeonatos estaduais deste ano renderam entre 49% a 60% de participação no IBOPE, em média. Ainda em 2018, jogos da Libertadores tem garantido imensa audiência para a TV aberta, ficando acima dos 50% de participação em jogos de Corinthians e Flamengo.

Através destes dados, é possível intuir um dos motivos para o atual desinteresse na Copa do Mundo: ela ainda está muito longe para os padrões de tempo atuais. Com o aumento do uso da Internet e globalização, outros interesses acabam por suplantar o campeonato mundial. E eles podem variar entre dar preferência a acompanhar os jogos do time do coração ou mesmo da Champions League até acompanhar a nova temporada da série favorita no Netflix. Também é necessário lembrar que a audiência da Copa do Mundo sofre um aumento sazonal, de espectadores que não se interessam pelo futebol normalmente, mas param para ver os jogos da Seleção no Torneio. Para estes, qualquer outra coisa é mais interessante do que discutir se a convocação de Tite foi adequada ou não.

Outra razão provável decorre da moral baixa da torcida brasileira desde a histórica goleada sofrida contra a Alemanha, nas semifinais da última Copa do Mundo, no Mineirão. O 7×1 ainda ecoa na cabeça dos brasileiros, mesmo após a conquista do ouro olímpico e da boa campanha nas Eliminatórias. Esse sentimento apenas mudará conforme a Seleção for apresentando bom desempenho nas partidas da primeira fase, e principalmente, nas fases decisivas da Copa do Mundo.

Por sinal, a lembrança do vexame na última Copa nos remete ao outro lado desta questão: a relação entre Copa do Mundo e eleições. Mesmo com a humilhante derrota brasileira, a Presidente Dilma Rousseff foi reeleita em outubro daquele ano. Na época, a grave recessão que nos acometeria no biênio seguinte, ainda era só uma miragem e o país ostentava uma taxa de desemprego menor que 5%.

O presidente Fernando Henrique comemora o penta da Seleção na rampa do Planalto com os jogadores. Foto Orlando Brito

Convém lembrar que, no período 1994-2014 houve sempre coincidência de eleições presidenciais e Copas do Mundo. Em apenas duas oportunidades, o Brasil ganhou a Copa: em 1994 e 2002. E em apenas uma eleição, o governo saiu derrotado, justamente em 2002. Em 94, ano de título mundial e vitória do governo, foi fundamental o sucesso rápido do Plano Real, que serviu de catapulta para a candidatura de FHC. Sem ele, muito provavelmente, o vencedor daquela eleição seria outro, mesmo com a conquista mundial. Foi o que ocorreu em 2002, quando já no final do segundo mandato, FHC conduzia um governo com baixa popularidade e viu seu candidato, José Serra, ser derrotado pelo petista Lula, com a promessa de geração de empregos e combate à miséria, principais problemas que afligiam a população.

Antes disso, em 1998, FHC ainda colhia os frutos do Plano Real, o qual permitiu um incremento no consumo de importados e sensação de bem-estar com a inédita manutenção do poder de compra. Ainda que a Seleção tenha perdido a Copa do Mundo para a França, em derrota acachapante na final por 3×0, o tucano se reelegeu facilmente, no primeiro turno. Já em 2006, o candidato à reeleição era Lula, acuado pelo escândalo do mensalão, porém com vistosos resultados na área econômica, com aumentos do salário mínimo e redução do desemprego. Nem a eliminação nas quartas-de-final, novamente para a França, e o fim do sonho do hexa foram capazes de impedir a reeleição lulista. Por fim, no ano de 2010, Lula vivia o auge de sua popularidade e conduzia uma economia em crescimento de 7,5% naquele ano. Na Copa do Mundo, nova eliminação nas quartas-de-final, desta vez para a Holanda. E nas eleições, vitória da neófita Dilma Rousseff, com apoio decisivo de Lula.

Quase três meses separam o final da Copa do Mundo das eleições presidenciais. Tempo suficiente para digerir derrotas ou abaixar a euforia pelas vitórias, e voltar aos problemas normais do cotidiano, sendo a própria situação econômica o principal deles. Por tal motivo, é impossível que um candidato canalize os sentimentos oriundos do desempenho da Seleção na Copa do Mundo. Isso seria viável se a eleição fosse uma semana depois da competição internacional de futebol.

Portanto, o interesse pela Copa do Mundo deverá aumentar à medida em que a competição se aproximar e o foco da imprensa, redes sociais e círculos de amigos se voltarem para o torneio e o desempenho da Seleção Brasileira mostre-se empolgante. Qualquer seja o resultado da Copa do Mundo, não terá impacto algum nas eleições, as quais continuarão sendo muito influenciadas pelas variáveis econômicas do país, e especificamente neste ano, pelo efeito Lava-Jato. Desta forma, pode-se dizer que o desemprego alto e desempenho fraco da economia não explica o atual desinteresse pela Copa do Mundo, mas vai explicar a derrota de qualquer candidato ligado ao governo Temer na corrida presidencial.

*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com

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