Nesta segunda-feira (5), durante uma solenidade das Forças Armadas no Clube Naval, em Brasília – um dos poucos eventos públicos que participou depois da derrota para Lula-, Bolsonaro manteve-se em silêncio e chorou ao cumprimentar os oficiais promovidos da Marinha. E chorou por quê? Tristeza pela derrota eleitoral ou pânico por saber que terá que responder por todos os malfeitos que fez nos últimos 4 anos? Até por seu desespero, a resposta parece óbvia.
Bolsonaro sabe que não terá vida fácil fora da presidência da República. Perderá o foro privilegiado e a proteção do procurador-amigo Augusto Aras. Seus filhos também devem responder por outros crimes. Eduardo e Flávio, o 03 e 01, respectivamente, ainda podem se safar porque têm mandato parlamentar. Já o 02, Carluxo, como vereador não conta com o mesmo benefício. É investigado no inquérito das milícias digitais, do Supremo, comandado pelo ministro Alexandre de Moraes, em Brasília. No Rio, também está sendo investigado pela prática de rachadinha na Câmara Municipal, outro motivo de pânico do capitão.
Bolsonaro também deve estar triste por perder muitas mamatas. Teve uma boa vida ao longo dos 4 anos à frente da presidência. Entrou em campanha desde a posse, aproveitando bem as benesses do poder. Passeou de jet-ski, frequentou alguns paraísos ecológicos, fez motociatas em várias partes do país e se lambuzou de farinha comendo churrasco – marqueting eleitoral como a farra com leite condensado.
Durante a pandemia da covid demonstrou total descaso com a doença que matou quase 700 mil brasileiros. Nunca manifestou o menor gesto de solidariedade, sequer verteu uma lágrima pelos mortos. Ao contrário, quando o Brasil atingiu quase 2 mil mortes em 24 horas, afirmou: “Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas”.
Agora, depois de perder a eleição, age como criança mimada. Está há mais de um mês isolado no Alvorada sem dar uma palavra. Usa a erisipela para justificar a ausência no trabalho. Só não tem se omitido quando precisa articular alguma coisa em benefício próprio.
Garantiu para si uma aposentadoria de R$ 30 mil pela Câmara; o aluguel de uma mansão em Brasília e mais um salário polpudo pago pelo PL com dinheiro do contribuinte, via Fundo Partidário; e ainda exigiu do presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, que apresentasse à Justiça Eleitoral um pedido de anulação dos votos de 250 mil urnas com modelo anterior a 2020 só do segundo turno. No que se deu mal.
Enquanto isso bobalhões permanecem acampados na frente dos quarteis pedindo intervenção militar para mantê-lo no poder. Bolsonaro segue choramingando pelos cantos do palácio, perdendo parte do seu capital político e dos aliados.
Para evitar um desgaste ainda maior, os aliados mais próximos de Bolsonaro querem emplacar a narrativa de que já estão sendo criadas estratégias para o retorno do capitão ao poder em 2026. Na teoria tudo parece funcionar, difícil vai ser pôr em prática todo o plano.
A turma de Bolsonaro acredita que o presidente contará com uma bancada fiel de aliados no Congresso, em especial no Senado. Puro delírio.
Com os problemas que terá que enfrentar quando deixar a presidência, Bolsonaro vai ter muito mais com que se preocupar. Além disso, nomes como o governador Romeu Zema, de Minas, podem ser uma alternativa da direita. Além do próprio Tarcísio Freitas, eleito governador de São Paulo, que já disse não ser um “bolsonarista raiz”.
A grande preocupação do entorno do presidente no momento é conseguir desmobilizar os manifestantes das portas dos quarteis sem decepcioná-los. Neste caso Bolsonaro não terá muito trabalho. Depois do dia 1º, a realidade vai se impor. Lula tomará posse e aos poucos a vida voltará ao normal. Os bolsonaristas mais radicais perceberão que não haverá espaço para ruptura institucional.
Enquanto isso, Bolsonaro segue chorando.