Brasília, jovem senhora velha

Foto: Orlando Brito

 

Da sua ampla sala no primeiro andar da Biblioteca Nacional de Brasília, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues. tem uma linda vista para a Esplanada dos Ministérios. Do janelão em frente, ele pode contemplar alguns dos principais monumentos da cidade que, daqui a alguns dias, completará 60 anos. É dali, porém, que se esboçam claramente aos olhos de Bartô, como o secretário é chamado por seus amigos, os problemas da cidade.

Se comparada, digamos, com sua cidade-irmã, Roma, Brasília é muito jovem. Afinal, Roma tem alguns milhares de anos. Brasília fará somente 60. Ao mesmo tempo, a vista que Bartô vislumbra mostra uma cidade deteriorada pelo tempo. Erros e descasos de administrações passadas fizeram algum mal a monumentos muitas vezes sujos, com infiltrações e pinturas descascadas. Não faz muito tempo, um viaduto caiu no centro da cidade. Segue a batalha pela reabertura do Teatro Nacional, há alguns anos fechado. Há problemas de estrutura e segurança em diversos prédios. Brasília é uma jovem senhora velha.

Muito além de patrocinar espetáculos e estimular movimentos culturais, cuidar do patrimônio de uma cidade tombada, um monumento vivo da moderna arquitetura, é uma das atribuições da Secretaria de Cultura, que passou a ser administrada por Bartô neste início de ano. E desvendar os desejos e necessidades dessa jovem senhora velha é hoje sua grande preocupação. Uma preocupação que é também política e econômica. E, por isso, é tema hoje desta coluna.

Ao mesmo tempo que enfrenta os problemas da idade, Brasília ganhou nestes seus 60 anos características próprias que talvez ainda não tenham sido bem percebidas por governantes que aqui passaram ou mesmo por alguns de seus habitantes. Há muito, ela deixou de ser meramente o Plano Piloto, centro da capital política e administrativa, cercada de outras cidades que viviam ao seu redor.

Sessenta anos depois, essas cidades ganharam vida e lógica próprias. Produzem sua própria cultura. Têm sua própria economia, muitas vezes independente do centro em Brasília. Tornou-se assim mais ampla. Mais complexa. Mas também mais vibrante.

São, assim, os aspectos da jovem senhora madura. No que diz respeito aos problemas relativos à sua idade, obras de revitalização vêm sendo tocadas. Uma delas iniciou-se na Praça dos Três Poderes, literalmente o centro do poder público federal da cidade, em parceria com o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Ipham). Ao longo dos anos, a praça nunca mereceu grande atenção. Está totalmente desnivelada por abusos, como a permissão muitas vezes para a entrada ali de caminhões e outros veículos que estacionaram sobre ela. Está sendo feito um trabalho para trocar as cerca de oito mil pedras que compõem os mosaicos das suas calçadas, entre outras intervenções.

Ao mesmo tempo, as novas possibilidades tecnológicas serão usadas para modernizá-la. Totens virtuais serão espalhados pelos monumentos da praça, agregando informações aos turistas que a visitam. O mesmo tipo de ferramenta virtual será usado no Espaço Lúcio Costa. Há ali uma bela maquete de Brasília, que, porém, está desatualizada, já que foi construída quando a cidade era bem menor. A maquete será agora atualizada com a utilização de hologramas. Ou seja: fisicamente, preserva-se a maquete original, e os novos espaços ali aparecerão graças ao uso da tecnologia.

Ao mesmo tempo, Bartô preocupa-se com a formulação de uma política cultural. Na linha das mudanças que aconteceram com a maturidade da cidade, vislumbra modelos maiores de regionalização dos recursos, para atender ao que hoje é produzido nas demais cidades além do Plano Piloto, produções e cenas culturais importantes mas muitas vezes ainda sem maior apoio e visibilidade.

E na utilização séria e responsável dos recursos. A cultura é responsável por 3% do Produto Interno Bruto do Distrito Federal. E também demonstra grande interesse político. A secretaria só perde para Educação e Saúde na destinação de emendas parlamentares. No passado, essas emendas já geraram alguns escândalos: festas e shows superfaturados pipocaram em alguns momentos. Bartô fez uma portaria que estabelece os critérios de destinação e controle dos recursos. Não inventou nada. Só reforçou o que dizia a legislação. E preparou um manual para os parlamentares explicitando as regras.

Recursos, diz ele, deverão sair. Ele planeja anunciar este ano quatro novos Fundos de Apoio à Cultura (FACs), recursos além dos que ele desbloqueou no início do ano. Dinheiro, porém, que ele pretende usar com critério e responsabilidade. Afinal, boa parte do envelhecimento precoce da jovem senhora madura chamada Brasília vem da prática anterior de certos vícios…

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