O Banco Central conseguiu vencer os especuladores de câmbio com expressivos ganhos, mas perdeu a batalha da defesa do poder de compra do Real. O Brasil, no governo de Jair Bolsonaro, teve a segunda maior desvalorização cambial do mundo. Só não ganhou da Venezuela. Os exportadores estão sendo favorecidos com ganhos maiores, mas o choque cambial no médio e longo prazo terá impacto sobre todos os preços da economia e comportamento futuro da inflação.
A autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) de repasse R$ 325 bilhões do resultado dos lucros do Banco Central (BC) neste primeiro semestre poderia ser um ato corriqueiro a não ser pelo fato de onde veio o ganho deste dinheiro.
A mesa de operações de câmbio do BC conseguiu um ganho líquido de R$ 478 bilhões entre janeiro a julho de 2020 nas operações de compra e venda de dólar dentro de sua missão de evitar ataque especulativo contra nossa moeda. A diferença entre os dois números via continuar no BC como reserva para um eventual prejuízo que possa ocorrer neste negócio no segundo semestre, o que é normal. O dinheiro que será enviado ao Tesouro Nacional deverá ser utilizado para abater parte da dívida pública.
Se o resultado das operações for visto pelo lado missão de enfrentamento a volatilidade cambial, pode-se considerar um fracasso retumbante. O real teve uma perda de 29,6% nos últimos seis meses diante do dólar. O poder de compra dos brasileiros no exterior caiu na mesma magnitude. Todos os insumos importados, mercadorias estrangeiras tiveram aumento de custos na mesma proporção.
O outro lado desta moeda são os ganhos que os exportadores estão tendo com a desvalorização da moeda. Em condições normais estes segmentos da economia deveriam estar gerando mais empregos e renda aos brasileiros, mas não é o que vemos.
A grande missão do BC é preservar o poder de compra da moeda com sua política monetária e cambial. No caso em análise a impressão é que a atuação da autoridade para evitar a volatilidade cambial deixou a desejar, mesmo com US$ 354 bilhões de reservas internacionais. Com reservas destas magnitudes, que foram constituídas para enfrentar ataques especulativos como o que estamos vivendo, nossa moeda é a segunda mais desvalorizada do mundo, só perde para a da Venezuela. A cotação do real era de R$ 3,809 em 2 de janeiro de janeiro de 2019, no primeiro dia de trabalho do Presidente Jair Bolsonaro.
Hoje o real diante do dólar vale R$ 5,474, ou seja: no governo de Bolsonaro tivemos uma perda diante do dólar de 43,71%. Isso tem reflexo no poder de compra e sobre o valor patrimonial das pessoas.
Os brasileiros que têm investimentos em moeda no exterior estarão rindo à toa com os ganhos. Os ativos estão depreciados e mesmo assim os investidores estrangeiros não estão investindo no Brasil, seja pela crise do Covid-19 ou pela incerteza sobre os rumos da economia.
O anuncio na última semana do FED, Banco Central dos estados Unidos, de sinalizar a tolerância com inflação maior e juros nos atuais patamares, deu uma acalmada no processo de desvalorização do real no Brasil na ultima sexta-feira. Com isso, a tendência do destinos de parte dos dólares de investidores estrangeiros é o nosso País, onde os juros são 2% maiores que nos Estados Unidos. Isso não significa o fim da volatilidade no câmbio, pois há outros fatores em jogo e a posição do Banco Central neste enfrentamento não tem sido clara.