O presidente reeleito da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que a Reforma da Previdência terá prioridade sobre o pacote anticrime (e anticorrupção) de Sergio Moro. Crime é crime, corrupção é corrupção, não é mesmo?
O sistema político desafia a ideia da Lava Jato no poder, principalmente por meio do
Ministério da Justiça e da Segurança Pública, e inaugura o segundo round entre nova governabilidade x coalizão à moda tradicional de Brasília. Se Bolsonaro optou por montar seu ministério ao largo dos chefes partidários, terá – imagina-se – que adotar o presidencialismo de cooptação agora.
Maia e os líderes devolveram a PEC 287 para reprecificar o conteúdo, pois, sem nova análise na CCJ, naturalmente, como explicou o demista, haveria uma guerra entre os deputados.
Após tantas idas e vindas, o mercado já se preocupa com o envio, pelo governo, de uma versão desidratada da Reforma. E é o que o establishment, derrotado por Bolsonaro porque divorciado da sociedade, quer evitar. Com o projeto “cheio” – e impopular na largada, a conta do desgaste com investidores e com a opinião pública, sobretudo as camadas de menor renda, enquanto, com a outra mão aumentaria o tom e a frequência da negociação. Com a devolução, o mundo financeiro cobraria o presidente e sua equipe econômica e política por uma versão mais estruturante que o próprio modelo de Michel Temer.
Há quem veja em Maia um colosso sem o qual nada acontecerá na casa após os 334 votos, sem grito, que o reconduziram, pela primeira vez, como um político a comandar a Câmara Baixa pelo terceiro mandato. Será? Com certeza, se o governo estiver disposto a abrir mão das frentes temáticas e bancadas transversais a assuntos que operam diariamente no mercado e quiser ficar de joelhos para a opinião pública, que rejeita um projeto “cheio”, perdendo fôlego e moral nas redes sociais.
Lula já deu a linha para a oposição radical, do qual ele, mesmo condenado pela segunda vez, e o PT são o segundo recall eleitoral diante de um revés bolsonarista: Guedes cria pobres e Moro (com o pacote) trata de matá-los, disse. Maia pode até usar o petismo (e siglas como o PC do B e o PDT abrigados em sua aliança parlamentar) para pressionar Bolsonaro.
O risco de Maia é provocar uma outra guerra que não na CCJ, mas com o bolsonarismo e isso dar espaço para fortalecer a oposição como alternativa antissistema, ao contrário da Europa, com pés entre numeroso segmento populares. Não por acaso, também chamado de populista na pré-campanha de 2018 por ícones ligados ao PSDB, quando sonhavam em repetir a polarização com o PT, agitando o espantalho extremista de esquerda para esconder os tiros que levara da Lava Jato.
O Brasil nunca viu uma coalizão à moda tradicional que não tivesse produzido escândalos de corrupção, mas, verdade seja dita, este modus operandi produziu avanços, como a moeda forte e estável, e a redução da fome e da miséria. O grupo político com mandato para combater a corrupção, após todos os outros fracassarem aos olhos da maioria social, é o de Bolsonaro. Tem que manter os avanços anteriores e encaminhar este. Xeque.
É a vez da jogada do governo. Ou no Congresso Nacional não há nem nova e nem velha política, são todos parlamentares com milhões de votos de seus estados e bases, ou há 50% de renovação nas casas para reconciliar establishment e sociedade. O destino da
Reforma responderá.
O certo é que pelas contas da maioria dos partidos, investir em segurança como o povo exigente ficará inviável sem uma mudança consistente na Previdência. Só que ninguém se sentirá seguro com a sensação de que impostos seguirão sumindo para que políticas estruturantes e outras coerentes com a carga tributária sejam aprovadas.