Mais uma sucessão presidencial. Começaram as pesquisas de opinião pública, e mesmo ainda distante do pleito vários setores já estão ficando empolgados. Cada qual acha que seu candidato sairá vencedor. A curiosidade do público é saber se o atual Presidente da República tem condições de se reeleger. Bolsonaro já emplacou dois resultados positivos a seu favor, nos últimos levantamentos. Ou seja, se a eleição fosse agora, ele venceria por uma boa diferença e permaneceria no cargo. Se isso é bom ou não é, cabe à população avaliar ao longo dos próximos anos.
No Brasil, para um Presidente da República reeleger-se não precisaria criar essa expectativa toda da população. Se o presidente no final do mandato tiver feito um trabalho político e administrativo relativamente bom e honesto, ou pelo menos razoável, terá possibilidade de disputar. O eleitorado brasileiro não cobra muito dos postulantes ao cargo. A simpatia pessoal, a demagogia, o dinheiro, a publicidade, as nomeações durante o mandato, o apoio de setores empresariais, os arranjos partidários e outras artimanhas são forças para os candidatos. Mais ainda para quem está no cargo.
Por que tanta expectativa e receios quanto à reeleição, seja Bolsonaro ou outro qualquer? Afinal, todos os últimos presidentes do Brasil foram reeleitos . Fernando Henrique dobrou, Lula repetiu a dose e até dona Dilma, a mais fraquinha em termos de popularidade, foi igualmente reeleita. O Brasil perdeu nesse período uma boa oportunidade de renovar seu panorama político e suas lideranças. Cada eleito conseguiu repetir a façanha e ficar oito anos no cargo, menos a dona Dilma, vítima de impeachment. O sucessor de todos, Bolsonaro, ganhou com facilidade apresentando-se como contrário à politica tradicional e explorador das redes sociais.
O atual presidente é grosseiro, explosivo, destemperado e de pouca estatura e interesse cultural. Foi deputado por vários mandatos mas não tem muito conhecimento do processo legislativo. Debochado, critica quem quiser, adora falar palavrão e acha que jornalistas são moleques. Os jornalistas não acham nada dele. Só fazem escrever sobre ele e o que ele diz e faz. Bolsonaro se elegeu sem dinheiro e com muita internet. Para alguns o modo de ser do presidente é um escândalo. Para ele é natural, engraçado, e bate onde quer porque só assim acha que pode mudar o Brasil. Populismo, tomar café na padaria, passear de moto, tais expedientes desagradam a muitos mas outros tantos adoram, e acham Bolsonaro uma pessoa alegre, descontraída. Por vezes é raivoso.
A candidatura ao mandato seguinte peca na questão dos princípios democráticos, pois o candidato à reeleição sai para a disputa com uma grande vantagem sobre os demais concorrentes. Um mandato cumprido, nomeações, obras – eventualmente – o exercício do poder com vantagens em benefício próprio e de seu grupo político o torna forte. Se perder será taxado de incompetente. E é possível que tenha sido mesmo. Bolsonaro é do tipo decidido e já teve uma eleição vitoriosa. Se voltar não será por ser realmente o melhor, mas porque passou quatro anos aplainando o terreno para continuar no cargo. Como os outros reeleitos fizeram.
Excesso de continuísmo impede a renovação da vida política brasileira. Acontece também ao nível estadual onde praticamente todos os governadores se reelegem para o segundo mandato. A seguir ainda ajudam um coleguinha de partido e se eleger para o mesmo cargo. E depois eles se elegem para o Senado.
Quem não se elege senador depois de ser governador duas vezes seguidas? E de lá, se quiser não sai mais. Não se trata só de méritos. Algum deve haver. Mas sim de encarar a política não como uma arte e um trabalho a favor do povo e da melhoria das condições sociais e econômicas do Estado. Para muitos políticos, o objetivo é ficar no poder e mamar até morrer. O povo, os pobres, a miséria, que se danem.
O Brasil praticamente não tem renovação política, o que é lamentável. A suposta renovação é o filho do deputado federal, o neto de um senador, dois sobrinhos do vereador, a esposa de alguns governadores, e dois filhos de um deputado estadual. Pronto, mudou tudo, mas não alterou nada. E se um candidato à Câmara Federal, filho de deputado não conseguir se eleger ficará meio desacreditado. Nem com a ajuda do papai conseguiu. Há deputados federais e estaduais, senadores também, que às vezes ficam três décadas repetindo mandatos.
Não o fazem somente porque o salário e as vantagens sejam ótimas. Muitos que chegam lá já são ricos. E por isso chegaram lá. O objetivo maior de todos é manter o status quo, o establishment, as vantagens do cargo, o apartamento funcional, o carro oficial, a semana de três dias, o plano de saúde e algumas viagens internacionais. E ser tido e chamado de Excelência, título que quase nenhum merece.
A reeleição, por uma única vez, para a Presidência da República e os governos estaduais é admissível. Parlamentares que passam boa parte da vida curtindo e se beneficiando do Congresso, com várias reeleições, são dispensáveis. Uma reeleição apenas. Bolsonaro, que poderá ser Presidente da República novamente, foi deputado federal sete vezes. Ou seja, por 28 anos. E seus rebentos também já foram para o Congresso.
— José Fonseca Filho é jornalista