Bolsonaro não é produto de assessoria de crises

O presidente Jair Bolsonaro voltou do Carnaval fantasiado de Steve Bannon, de cuja internacional populista o filho Eduardo é o public affairs para a América Latina.

Atos como a desautorização a Sérgio Moro sobre trazer para a gestão Ilona Szabó, o “recuo antecipado” na idade mínima para mulheres na Reforma da Previdência e os tuítes sobre golden shower vêm para manter a sociedade polarizada e mobilizada, de ambos os lados, e não deixar o reality show terminar. Bolsonaro precisa de apoio para defender-se de pressões do sistema político, da oposição  e do mercado. É o que lhe garante o piso mínimo para não correr o risco de ter um destino como o de Dilma Rousseff. O núcleo duro dos 57 milhões de votos tem que estar ativo para qualquer missão.

Após considerar cumprida a promessa com os investidores ao encaminhar um projeto padrão Escola de Chicago, o comandante-em-chefe delimita claramente a liderança da linha alt-right em sua gestão. O anúncio da “Lava Jato da Educação” está aí para reforçar, enquanto a especialista que Moro conheceu no “partido globalista de Davos” (Bannon) também. Agora encenando Trump x Kim Jong Un, após fracassada a ajuda humanitária na Venezuela, que traria deserção em massa segundo Juan Guaidó, diz-se aberto a um diálogo pacífico. O assunto seguirá quente. Escrevi isso aqui n’Os Divergentes, no artigo Não se iluda com Bolsonaro, de 01 de novembro de 2018.

Advogado, Gustavo Bebianno na cerimônia de transmissão dos cargos dos chamados Ministros da Casa. Brasília, 02/01/2018 – Foto Orlando Brito

Quem não entendeu o golden shower não percebeu que, questionado por blocos e escolas de samba, Bolsonaro tratou de juntar os seus, os conservadores nos costumes, reais ou falsos moralistas. Por isso é surpreendente que interlocutores da ala militar imaginem que a repercussão negativa deve trazê-la, “novamente”, como moderadora – até porque o monitoramento de redes registrou mais reações favoráveis.   Moderador igual ao caso Bebianno, em que a reunião com a Globo foi o estopim? Ou à declaração de Mourão às páginas amarelas da Veja da semana, em que disse que, se os filhos não fossem cumprir seus trabalhos, teria que conversar com o presidente? Neste caso, além da própria revista trazer uma nota com rumores de que Carlos discute com o pai renunciar para vir para Brasília, o capitão tuitou que ninguém os separaria.

Jair Bolsonaro no Quartel da Marinha, no Rio. Foto Divulgação

No discurso feito nesta quinta-feira (7), na cerimônia de formação de fuzileiros navais no Rio de Janeiro, Bolsonaro agitou o populismo customizado para os quartéis (e não “a hora dos militares mostrarem seu valor após a difamação da esquerda”, padrão Mourão):  “A segunda missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade. E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Forças Armadas assim o quer”.

Congressistas, que já estavam chateados porque o “recuo antecipado” lhes tirou a oportunidade de fazer o jogo para a torcida às custas da popularidade do presidente, não entenderam o firehosing carnavalesco e repetiram o mantra de que pode prejudicar as mudanças na aposentadoria. Uma boa oportunidade para entender será a apreciação da MP do imposto sindical. Aí sim, um teste do Planalto. Quem é direita e quem não é? Quem dá importância às minhas pautas ideológicas, podendo esperar contrapartidas para com as suas?  É assim que o governo mediria sua força parlamentar e quais complementos precisariam ser feitos para alcançar (ou simular alguns) objetivos, seja nas redes, seja nos balcões legislativos. A nova governabilidade continua sendo testada, sob a “tutela” da seção brasileira do The Movement.

Até agora, a única derrota do governo Bolsonaro – verdade verdadeira – foi a vitória da Estação Primeira de Mangueira no Carnaval do Rio de Janeiro.

 

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