Aos poucos a vida vai voltando ao normal. Primeiro foram os ataques ao centro de Brasília com ônibus e carros sendo queimados, prédios públicos depredados, e uma tentativa de invasão da sede nacional da Polícia Federal. Todos os limites pareciam ultrapassados, sem nenhuma repressão.
Depois ocorreu a tentativa frustrada de um caminhão de combustível com milhares de litros de querosone de avião, os de maior octonagem, em pleno Aeroporto Internacional de Brasília, um dos dois mais movimentados do país. Tudo isso sem que Bolsonaro desse sequer um pio. O país assistiu estarrecido a essas barbaridades, cujo fracassos forçaram os “patriotas” a começarem a abandonar os acampamentos em frentes de quartéis do Exército de forma dita voluntária. Saem de cena com sentimento de derrota, alguns vão amargar isso na cadeia. Afinal, a tão almejada intervenção militar nunca se concretizou. Nem mesmo os ETs se dispuseram a ajuda-los, apesar dos lunáticos apelos.
Enquanto isso, Bolsonaro se prepara para deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos, em avião da FAB, pago com o nosso dinheiro, aproveitando até o último minuto todas as benesses que o poder oferece em benefício próprio. Lá deve passar uma boa temporada junto com o filho 02, o vereador Carlos Bolsonaro, que já se encontra na terra do Trump desde antes do Natal.
Muitos desses apoiadores voltam para casa desiludidos com o “mito”, que nunca lhes dirigiu uma única palavra, nem para agradecer ao apoio, menos ainda para repudiar atos terroristas. Outros buscam em teorias conspiratórias explicações para o comportamento covarde e omisso do presidente. E, por incrível que possa parecer, ainda há quem acredite que Lula será impedido de tomar posse e que Bolsonaro permanecerá no poder por mais 4 anos, mesmo com todas as evidências contrárias.
Adepto das teorias conspiratórias, Bolsonaro sai do Brasil acreditando que se permanecer aqui já no dia 2 de janeiro terá seu passaporte confiscado e ele e seus filhos serão perseguidos e presos em seguida. Não por acaso Carluxo foi o primeiro a deixar o país. Ao contrário dos irmãos Flávio e Eduardo, não tem imunidade parlamentar e responde a mais de um inquérito, entre eles o das milícias digitais, comandado pelo ministro Alexandre de Moraes.
É verdade que Bolsonaro tem motivos de sobra para se preocupar com a Justiça. Essa semana a Polícia Federal enviou ao STF relatório do inquérito, aberto a pedido da CPI da covid, concluindo que o presidente cometeu crimes ao divulgar informações falsas sobre a pandemia e desestimular o uso de máscaras quando a transmissão estava em alta e não existia vacina. Esta é apenas uma das muitas investigações em curso.
Mas ao abandonar o Brasil temendo ir para cadeia, Bolsonaro deixa órfãos uma legião de seguidores que não aceitam a volta de Lula e do PT ao poder. Esses fanáticos se mostraram resilientes e fieis ao presidente, mesmo diante de tantas evidências de que nada aconteceria e que Bolsonaro estava mais preocupado em não ser preso do que com qualquer outra coisa.
Estimulados por canais bolsonaristas, que diariamente alimentam as mais tresloucadas teorias conspiratórias, os autoproclamados “patriotas” sonham com um líder que derrote o PT nas próximas eleições. Acreditam que o capitão é o único com força para enfrentar a guerra contra a esquerda. Ledo engano!
Quem conhece Bolsonaro sabe que ele não tem nem disposição nem capacidade para liderar uma oposição coerente e consistente contra Lula nem contra nenhum outro político. Foi eleito em 2018 por uma conjunção de fatores que não se repetirão mais. Desperdiçou essa oportunidade. Se jogou nos braços do Centrão, que vivia chamando de “velha política”; criou tensão entre os poderes; destruiu todos os mecanismos de combate à corrupção no país, apesar de ter prometido fortalecer esses mecanismos e cometeu outras tantas barbaridades ao longo dos últimos 4 anos.
Esvaziou o Ministério Público ao nomear Augusto Aras Procurador-Geral da República. Aparelhou a Polícia Federal e os órgãos de inteligência como a Abin para trabalhar em favor de amigos e familiares. Agora, o feitiço se voltará contra o feiticeiro. Por isso, busca abrigo em outro país.
Bolsonaro plantou vento, está colhendo tempestade. E seus eleitores precisam buscar outra liderança, desta vez mais consistente e competente, para enfrentar o PT e aliados em 2026. No tapetão não deu certo. A democracia venceu.