O que fazer para escapar do coronavírus que ameaça a vida das pessoas e começa a paralisar as principais economias do planeta? No Brasil, já temos milhares de pessoas infectadas com o vírus e mais de uma centena de pessoas que não resistiram a doença.
Mesmo com as medidas de isolamento social recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) sendo aplicadas nos estados por orientação do Ministério da Saúde, o número de infectados e mortes teve um crescimento exponencial nos últimos dias. A maioria das pessoas está nas suas casas, lavando a mão e ficando a uma distância para evitar a contaminação.
O comércio do país interior fechou suas portas na última semana sem saber quando vai reabrir e poder contabilizar o tamanho dos prejuízos. Muitas indústrias entraram em férias antecipadas para evitar que suas mercadorias fiquem estocadas por falta de consumo.
Ninguém sabe quanto tempo será necessário para controlar a disseminação em massa do vírus. O próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, diz que temos que nos preparar para o pior que virá pela frente.
Sem respostas
O impacto do vírus na estrutura de produção e consumo depende do tempo necessário para a doença deixar de ser uma ameaça no Brasil e em outros países. Hoje, ninguém tem esta resposta. A cada semana que passa os estragos nas indústrias, no comércio, na arrecadação de impostos e na economia são da mesma gravidade do coronavírus.
Um entendimento divergente vem tomando conta de grande parte da população entre escolhas de como enfrentar a doença e minimizar os prejuízos na economia. Não há escolha neste caso. É preciso lidar com sabedoria as duas realidades.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, acha que não deve ter isolamento social horizontal por temer pelos impactos recessivos sobre a economia e o desemprego. Bolsonaro tem tratado a doença como uma “gripezinha”, em posição contrária a todos os governadores e prefeitos.
A insegurança da população sobre a doença, a ameaça do desemprego com as restrições de funcionamento das empresas é agravada pela ausência de comando do Planalto do que de fato fazer.
Governo sem rumo
O governo federal está indo a reboque dos acontecimentos com um atraso significativo, espaço que está sendo ocupado por governadores e prefeitos preocupados com a saúde da população. As duas exceções são o ministro da Saúde e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que adotou medidas em linha com o que fizeram outros bancos centrais para enfrentamento de liquidez no mercado.
O Banco Central está injetando dinheiro na economia de recursos de compulsórios aos bancos e empréstimos com juros de 3,75% ao ano para as empresas. Já a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, demorou para se articular e adotou medidas pontuais como liberação do FGTS, antecipação do décimo terceiro dos aposentados, pagamento de R$ 600,00 aos trabalhadores informais para amenizar a perda de renda com o isolamento social.
Guedes ainda não deu uma visão de conjunto de como o governo vai passar pela crise do coronavírus e sequer está falando o que pretende fazer para tirar o País da recessão. O certo é que a arrecadação da União, estados e municípios já está em queda.
Alguém tem dúvidas do tamanho de encolhimento da economia com dois a três meses de enfrentamento da doença? A ideia de um isolamento vertical para determinados segmentos da população, como velhos e crianças, vem sendo discutida mais pelo achismo do que em torno de dados objetivos de seus benefícios.
A falta articulação do governo em torno de informações confiáveis sobre os impactos que estão ocorrendo em todas as cadeias produtivas deixa o país à deriva. É hora das autoridades utilizarem as estruturas de estado em defesa da população.
As decisões de governo precisam ser tomadas com base em dados efetivos do que está ocorrendo com a produção, distribuição e consumo para ver se pode ou não flexibilizar o isolamento social.
Falta planejamento
Já é tempo da equipe do Ministério da Economia promover a criação de câmara setoriais das principais cadeias produtivas para realizar reuniões virtuais semanais a fim de verificar coisas elementares: estoque de produtos, nível de atividade, gargalos de insumos de fornecedores para ter uma ideia se vai faltar frango no supermercado, leite ou pão.
Mais do que nunca é necessário que o Governo Federal defina um plano logístico complementar ao que hoje e feito pela iniciativa privada para evitar gargalos de abastecimento. A estatal dos Correios deveria adotar um programa de entrega de encomendas para ajudar o comércio e os consumidores, tendo em vista a sua capilaridade. Os aviões da de carga da Força Aérea e os navios da Marinha deveriam ficar à disposição das autoridades para transporte de remédios, insumos que estiverem faltando em qualquer parte do Brasil.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), criada no regime militar, hoje precisa ser acionada para garantir o abastecimento de alimentos às populações pobres das periferias das cidades com seus estoques reguladores. Sim, é papel do Estado, que determina que o cidadão fique em casa, garantir a ele o que comer.
A Conab tem estoques de arroz, feijão, leite, café, farinha de mandioca, óleo de soja, sabão etc. Mas o que não tiver em estoque, faça e compra no mercado, como frango e carne suína. Os produtos deveriam ser enviados às prefeituras para realização das entregas de acordo com cadastros de quem mais precisa.
Ao tomar decisões desta magnitude, a população estará mais confiante nas autoridades que estão no comando do País para aderir ao isolamento horizontal ou vertical em determinados segmentos. A Itália, onde a doença está em um estágio mais avançado, o primeiro-ministro Giuseppe Conte fechou um acordo com as centrais sindicais de trabalhadores para manter operando as indústrias e empresas que produzem alimentos ou serviços essenciais. Hoje 48,5% das empresas italianas estão em atividade para evitar uma crise de abastecimento total e muito mais mortos.
No Brasil, este tipo de problema de escassez de alimentos ainda não ocorreu, mas é prudente um governante se antecipar aos fatos.O que falta para os pobres é dinheiro para compra dos alimentos.
Certamente, a medida que o tempo passa, os efeitos do isolamento social começam a refletir nas estruturas de produção. É papel do Chefe da Nação, diante de riscos de desabastecimento, tomar as decisões para garantir a alimentação à população que hoje está isolada em suas casas e às famílias dos desempregados.
Bolsonaro precisa entender que, como presidente da República, é seu dever adotar as medidas administrativas para enfrentar a crise e conduzir as decisões em harmonia com os demais entes federativos para evitar um desastre ainda maior na economia.