Hoje o dia amanheceu mais triste para todos que fazemos Os Divergentes. Recebemos a notícia que nenhum de nós queria ouvir: nosso grande amigo Orlando Brito nos deixou na manhã dessa sexta-feira (11/03), depois de 34 dias lutando pela vida na UTI do Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal. Mais que um grande profissional, talvez o maior que o Brasil já teve na fotografia, perdemos um sócio, um amigo, um ser humano maravilhoso.
Nascido em Janaúba, Minas Gerais, no dia 8 de fevereiro de 1950, Brito chegou a Brasília ainda menino, no começo de 1957, durante a construção da nova capital. Seu trabalho abrange os temas da política e da economia, questões sociais, da vida urbana e do interior, terras, índios, esportes e, enfim, todos os assuntos.
Ao longo da sua extensa carreira como repórter fotográfico, viajou por mais de 60 países, em coberturas presidenciais, papais e esportivas. Daí surgiram verdadeiras obras de arte em forma de fotografias. Brito era um gênio, conseguia captar a alma das pessoas e enxergar além. Assim, foram registradas pelas suas lentes cenas icônicas da política, do esporte, do cotidiano.
De 1968 a 1982, trabalhou no jornal O Globo. Depois, transferiu-se para a Veja, onde ficou por 16 anos e, em São Paulo, foi editor de fotografia da revista emplacando o impressionante total 113 capas, recorde nunca superado até hoje. Foi também editor de fotografia do Jornal do Brasil, no Rio, em 1988 e 1989.
Ao longo dos anos foi um dos fotógrafos mais premiados do país. Ganhou o prêmio World Press de 1979, na categoria de sequência fotográfica. Venceu ainda onze prêmios Abril entre 1983 e 87, passando a ser considerado hors concours neste certame. Foi contemplado com a bolsa VITAE de Fotografia em 1989.
Além do site Os Divergentes, Brito tinha a própria agência de fotografia, a ObritoNews. Ministrou cursos, workshops para grupos em empresas e aulas em universidades, faculdades e escolas de comunicação e jornalismo. Recentemente, colocou suas obras à venda na internet.
Brito deixa um filha, Carolina, e dois netos, Théo e Thomaz, as grandes paixões da vida dele.
Trabalho
Ao longo dos quase 60 anos de profissão, Brito manteve uma rotina de trabalho incessante. Acordava cedo e já nos primeiros raios da manhã partia com sua grande companheira, a câmera fotográfica Leica, para registrar os movimentos políticos em Brasília. Alvorada, Planalto, Congresso, Supremo, nada escapava ao seu olhar atento. Gostava de estar onde a notícia estava.
Acompanhou todos os presidentes da República desde Castelo Branco até Bolsonaro. Tinha um livro pronto para ser lançado em breve intitulado, Do General ao Capitão. É uma verdadeira aula de história. Nele, há registros inéditos do período da ditadura militar, quando flagrou um treinamento de tortura feito pelo Exército Brasileiro. Na época sua máquina foi apreendida e os filmes destruídos, mas antes, conseguiu salvar algumas imagens que estarão no livro.
Essa é apenas uma entre as milhares de histórias vivenciadas pelo genial fotografo. Mais que um profissional excepcional, Brito era um ser humano incrível. A gentileza era sua principal característica. Mesmo com tantos prêmios no currículo, jamais se comportou como estrela. Os próprios colegas o reverenciavam como uma “lenda” do fotojornalismo. “Existem nós, os fotógrafos, e existe Orlando Brito”, diziam.
Apesar da dor que se abateu sobre nós por uma notícia tão devastadora, somos gratos pelo privilégio de termos tido Orlando Brito ao nosso lado nesta aventura que foi a criação de Os Divergentes. Nos seis anos em que o site está no ar, ele nos brindou com imagens cheias de significado e beleza. Fotos que só um profissional com um olhar atento e apurado como o dele conseguia captar.
Fará falta aos nosso leitores, mas, principalmente, àqueles que tiveram o prazer com conviver com ele por tantos anos.
As informações sobre o sepultamento serão publicadas no site assim que a família definir.
Vá em paz, amigo Brito! Deixará muitas saudades.