O governo Jair Bolsonaro tem apenas 42 dias, mas já se debate a sua sucessão. Há pelo menos quatro possíveis candidatos listados: o governador de São Paulo, João Doria, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os candidatos derrotados em outubro Fernando Haddad, do PT, e Ciro Gomes, do PDT.
O PT de Haddad anunciou que pretende reeditar as chamadas Caravanas da Cidadania, viagens pelo país batizadas assim pelo ex-presidente Lula depois da derrota para Fernando Collor na disputa presidencial de 1989. Antes de embarcar, porém, seria útil ao partido rever suas mensagens. O bordão “Lula livre” perdeu o sentido depois da segunda condenação, no caso do sítio de Atibaia — como gosta de repetir Ciro Gomes. Além disso, o PT está isolado no Congresso, e a oposição ao governo ainda não tomou forma.
Dias atrás, diante de cinquenta investidores estrangeiros reunidos num evento do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Doria foi apresentado por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como possível presidente da República no futuro. O governador paulista, um dos primeiros a abandonar o candidato do próprio partido, seu antecessor Geraldo Alckmin, e a declarar apoio a Bolsonaro ainda no primeiro turno da eleição, é um defensor das reformas econômicas liberais e um entusiasta da agenda política conservadora nos costumes. Conta com a promessa do presidente de não disputar a reeleição — reafirmada por Guedes, que revelou a decisão do chefe de enviar ao Congresso, ainda neste mês, projeto para acabar com a reeleição.
Com mandato renovado para presidir a Câmara, Rodrigo Maia assumiu o papel de negociador da reforma da Previdência. Montou um calendário de viagens para encontrar os governadores e articula a votação de projetos que podem aliviar o caixa dos estados, a maioria em situação de penúria. Maia tomou para si uma função que caberia ao Planalto, não ao comandante do Legislativo. Repete movimento de novembro de 2017, quando Michel Temer permitiu que ele nomeasse um ministro (Alexandre Baldy, em Cidades) para facilitar a aprovação de sua reforma da Previdência. O presidente da Câmara corre o risco de, em caso de derrota do projeto da Previdência, ser visto como um sócio do fracasso. Em caso de vitória, ela terá sido de Bolsonaro.