Em um longínquo setembro de 1978, trabalhando para a Revista O Cruzeiro, recebi a pauta fotográfica do editor de fotografia: clicar Adelzon Alves para uma matéria sobre seu programa na Rádio Globo, “Amigo da madrugada”, que aniversariaria dali quatro dias.
Era sexta-feira e a Lapa, onde ficava a redação da revista, não fervilhava como hoje, mas já tinha um certo movimento festivo à noite pontuado pela malandragem carioca, algumas meninas de vida, nada, fácil, travestis e boêmios inveterados.
Onze em ponto, munido de equipamento e flash Metz com duas cabeças, pois, conhecia o tamanho do estúdio, onde seriam realizados os cliques, partimos, eu e o repórter Edson Torres, para a missão de acompanhar o programa inteiro durante toda o dilúculo, no lendário prédio da Rua do Russel, 434.
Ao chegarmos, fomos recebidos por um Adelzon genialmente simpático ainda nos preparativos para apresentação daquela madrugada.
Acostumado com o ambiente de Rádio, pois, naquela altura, já colaborava com o J. Carlos, “O repórter que fareja notícia” apresentando o panorama do surf na Rádio Mundial – líder de audiência na faixa jovem – e, atuando como locutor-narrador do divertido “Brasil e sua música” na Rádio Continental Capital, esta que ficava no mesmo 170 da Rua da Lapa, onde, na sobreloja estava a redação da “O Cruzeiro”. Achei tudo meio estranho. Não havia produtor, não havia assistente, locutor de cabine… nada, só estavam lá, o próprio Adelzon e um operador de áudio, nada além… Encimando a bancada, apenas o microfone, uma garrafa d’água e uma pilha de long-plays que encobria o apresentador.
Os ponteiros se encontram, microfone aberto, e, sem nenhum script, roteiro, ou até mesmo papel pontuados, entra no ar fazendo uma preleção de saudações: “boa-noite, ‘pra’ quem é de boa-noite, bom dia, ‘pra’ quem é de bom-dia…”; “bom dia aos…” discorrendo uma série de categorias trabalhadoras da madrugada, fiéis ouvintes; abraços e afagos a amigos como o “Zé Porreta”, proprietário de um empreendimento na área de entretenimento na subida do Morro da Mangueira, que o apresentador, carinhosamente, se referiu como “birosca”… foram, cravados, 14 minutos de introdução. Nas quatro horas vindouras, não foi diferente, não havia lógica programática. A seleção musical era ao acaso do disco que calhou vir à mão daquele arranha-céus musical. As ligações iam ao ar entre conhecidos e anônimos no mesmo tom de brincadeira e tiradas desconcertantes, como uma de um ouvinte, querendo se gabar de ter várias mulheres ao mesmo tempo, teve como resposta que, havia uma contrapartida, pois, a possibilidade de ser traído era inversamente igual ao número de mulheres que mantinha amásias. Claro, tudo numa linguagem bem mais popular, que, àquela altura da madrugada, não assustava mais ninguém.
(continua…)