Corrupção em alguns setores da administração pública do Brasil. Realidade antiga, para a qual jamais se encontrou solução efetiva: acabar com a bandalheira. Reduzir já é um avanço. Esse absurdo ocorre nos níveis federal, estadual e municipal, embora com algumas exceções, naturalmente. A novidade é um grupo de bandidos, em vários carros, invadir cidades de pequeno ou médio porte, altas horas da noite, com a maioria dos habitantes já recolhidos. O grupo vai aos bancos, explode os caixas e costumam sair com várias sacolas de dinheiro. Eventuais habitantes e policiais que aparecem viram reféns ou levam bala. Lembra filmes da época de Al Capone.
Ao contrário do que deseja a população, o crime é uma atividade em franco desenvolvimento no país. O setor público, que congrega a corrupção política, é um dos mais ativos, envolvendo parlamentares, governadores, presidentes, prefeitos e administradores. Os políticos, entre nós, não gozam de bom conceito mas costumam se reeleger. Isso ajuda a preservar a lamentável situação. Nos últimos anos, grandes empresas, algumas das maiores construtoras do país, caíram na bandidagem e promoveram a corrupção a níveis surpreendentes. Empresas brasileiras chegaram a atuar também em outros países, exportando seu know how do assunto. Algumas, como a Odebrecht, criaram em sua estrutura administrativa o Departamento de Negócios & Atas, para disfarçadamente agilizar as parcerias espúrias.
Houve uma fase de investigação eficiente e de colocar vários poderosos, empresários e políticos, na cadeia, inclusive o sindicalista Lula, que antes chegou a ser presidente. A população nem acreditava, mas era uma nova realidade que estava se impondo: uma batalha contra a corrupção. Hoje existem elementos direitistas, setores do governo federal e do Judiciário que se dedicam a desmoralizar o trabalho anticorrupção denominado Lava Jato. Tamanha foi a corrupção e a criatividade dos experts locais que o Brasil despertou a atenção mundial. Foi de humilhar os especialistas da máfia. E hoje o país tem outra atividade lucrativa: fábricas de tornozeleiras eletrônicas, para os grandes ladrões, empresários e políticos, que ficam em prisão domiciliar nas suas mansões. Ainda sem poder exportar: o mercado interno absorve toda a produção.
Alguns custam a acreditar. Todavia, tem gente no Brasil aproveitando a pandemia do coronavírus, com dezenas de milhares de vítimas da doença para…. roubar. Surgem de onde os ladrões? Na atividade criminosa existem até altos funcionários da administração pública, em vários níveis, incluindo Secretários de Saúde estaduais. Setores de onde o país mais precisaria de apoio. Tais elementos deveriam estar dedicados a trabalhar para combater a doença, montar o esquema de atendimento às vítimas, requisitar mais equipamentos de trabalho, enfim, lutar para cumprir suas obrigações. Muitos, entretanto, partiram para a fraude, o desvio de recursos, os preços aviltados para obter lucros.
Em várias compras internacionais de equipamentos, incluindo os respiradores, de grande importância para o tratamento dos pacientes mais graves, houve extravio do pagamento, preços aviltados, instrumentos adquiridos de qualidade inferior, revenda com preços majorados e outras irregularidades. Equipamentos ordinários comprados para a realização de testes de contaminação, desviados para venda clandestina, além de outras irregularidades. É conveniente a polícia se organizar para quando chegarem as vacinas.
Isso acontece no Brasil, o segundo país do mundo mais atingido pelo volume da doença, e cujo governo não estabeleceu uma política específica para combater a pandemia. Não acertou nem indicar um ministro para a Saúde. O Presidente da Pátria Amada pensou que seria só uma gripezinha e quase mandou comprar algumas toneladas de vitamina C e aspirina. Ele próprio foi atingido e tomou um remédio desautorizado pela Organização Mundial de Saúde, mas ficou bom porque é atleta. Enquanto isso, na maioria das cidades faltam instrumentos de trabalho para as equipes médicas. A destacar a dedicação e o trabalho desenvolvido pelos médicos (as) e enfermeiros (as).
Na Cidade Maravilhosa e doente, depois de muito esforço para construir hospitais de campanha, três deles foram desmontados, fechados. Foram inúteis? Pacientes existem milhares, assustados com a baixa qualidade da assistência médica do Estado. Com essa infraestrutura de defesa deficiente e desarticulada a enfrentar, as hordas de coronavírus devem supor que não será tão difícil invadir e superar a resistência brasileira.
— José Fonseca Filho é Jornalista