A morte e a morte de Róger Bitencourt

Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

No dia 27 de dezembro de 2015, o jornalista Róger Bitencourt fazia a última trilha com seu grupo de ciclistas do ano. Estava voltando para casa, usando a ciclo-faixa da SC 401, quando um motorista confessa e comprovadamente bêbado atropelou o grupo pelas costas. Róger morreu na hora e um companheiro dele ficou ferido, mas sobreviveu. Karin Verzbickas, sua mulher e também jornalista, e a filha, Sofia, então com 6 anos de idade, o esperavam em casa, talvez para mais uma celebração por mais um ano feliz.

Depois de muitas idas e vindas, aconteceu finalmente, na última quinta-feira, 07/02, o julgamento do assassino de Róger. O motorista Gustavo Raupp Schardosim, que assassinou Róger Bitencourt, profissional de comunicação exemplar, amigo dos amigos, foi condenado a 7 anos de reclusão pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio. O réu terá ainda que pagar multa de R$ 50 mil a família das vitimas.

Após 11 horas de julgamento, o conselho de sentença do Tribunal do Júri da comarca da Capital deu o veredito. O juiz de direito Renato Mastella, que presidiu a sessão, concedeu o direito do réu em recorrer em liberdade, mas negou a substituição da pena privativa de liberdade pelas restritivas de direito. Em função de uma prisão preventiva, o motorista já cumpriu um ano e quatro meses em regime fechado. Assim, o magistrado registrou que o réu deve cumprir os cinco anos e oito meses remanescentes em regime semiaberto.
Nesta quinta-feira, nós perdemos Róger de novo.
E o seu assassino vai ficar livre.

Foto: Paulinho Sefton / Divulgação

Esse motorista assassino ainda poderá ser beneficiado pela progressão da pena. E voltará para as ruas e para os bares, se armará novamente de álcool e sairá por Florianópolis pronto para fazer novas vítimas. Róger não voltou mais para casa desde aquele 27 de dezembro.
Segundo denúncia do Ministério Público, o condutor estava ao volante de uma Parati em visível estado de embriaguez quando perdeu o controle do carro, invadiu o acostamento e atropelou Roger – pelas costas.

O jornalista Roger Bittencourt tinha 49 anos na época de sua morte. Natural do Rio Grande do Sul, vivia há 22 anos em Santa Catarina, onde atuou no grupo RBS, foi professor do curso de jornalismo, secretário de Estado de Comunicação e sócio-fundador da empresa Fábrica de Comunicação, talvez a mais importante agência de comunicação do Sul do país. Quando foi assassinado exercia a 1ª vice-presidência da Associação Catarinense de Imprensa (ACI).

A imprensa nacional não deu atenção ao crime, ao julgamento – e eu mesmo passei esta semana pautando coleguinhas dos grandes veículos. Não houve comoção, nem indignação por parte dos defensores dos direitos humanos; as entidades que contabilizam a morte violenta de jornalistas também não registraram a tragédia de Róger Bitencourt – talvez fosse pouco para o empenho deles, um jornalista de Santa Catarina… Esses militantes não viram ganho político na morte de Róger. Imagino que eles selecionem os crimes que acham valer a sua militância – não pelo crime em si, mas pela repercussão que possa gerar para os movimentos deles… Ou por não interferir na audiência de seus tele-jornais 24 horas no ar a imprensa televisada, e a on line, também não se comoveu… Nem um registro pela morte de um dos seus…

É essa seletividade e ideologização da indignação que faz com que a permissividade da justiça com esse tipo de crime e esse tipo de criminoso continue. E esses crimes e criminosos sigam impunes. As prioridades sempre são outras…

Nós, amigos, colegas, conhecidos de Róger, no entanto, não ficamos parados. Liderados por Karin Verzbickas, fizemos o movimento pela justiça e lutamos por todos os ciclistas mortos, por todos os jornalistas mortos, para que a punição de seus assassinos sirva de freio a este tipo de crime.

A imprensa catarinense se fez presente, especialmente O jornal Notícias do Dia que, em seu twitter, cobriu o julgamento utilizando as hastags #CasoRóger#naofoiacidente #GoRogérGo, criadas por Karin e amigos.

 

Karin se mostrou uma heroína e nos encheu a todos de orgulho. A pequena Sofia talvez nunca entenda porque seu pai não voltou para casa. Mas terá em sua mãe, Karin, o exemplo de como seguir em frente. Nós continuamos juntos. A corrida nunca vai acabar.
*jornalista, trabalhou em SC entre 2011 e 2013

Deixe seu comentário