A lista

Na boca do sapo cururu

Esplanada dos Ministérios completamente vazia do domingo - Foto Orlando Brito

O isolamento provocou uma avalanche de lives – palavra que parece ter sempre pertencido ao idioma português. Essa é a beleza de uma língua viva, dinâmica. Certo que há muito exagero e cabotinismo, mas vida que segue…

Depois dessa pequena digressão, vamos voltar para as tais lives. Com a proibição de aglomerações pelas autoridades, os shows ao vivo (como eram conhecidos os espetáculos com público) foram suspensos.

A solução para o espetáculo não parar aliou as novas tecnologias às necessidades de diversão e entretenimento, que também fazem bem à alma. E o movimento provocou todos os tipos de apresentações, contemplando todas as tendências. Sertanejo, samba, pagode, rock, balada, MPB se disseram presente, inclusive em escala mundial. Até o Rei, quase sempre recluso, não esperou o Natal e cantou para os fãs.

E foi um desses shows que me chamou a atenção: Osvaldo Montenegro. Como um quase candango, vi o artista surgir em Brasília, com espetáculos musicais e um incipiente fã clube formado por adolescentes, entre elas a minha namoradinha da época. Depois, ele fez sucesso, com músicas que se tornaram conhecidas em todo país, mas, surpreendentemente, não voou como poderia ter acontecido. Ganhou pecha de chato, coisa que não é.

E não é que ele fez uma live que foi um sucesso??!! As redes sociais, um excelente refúgio para esses tempos de isolamento, e para os corajosos de ocasião, aprovaram a forma e o conteúdo. Como é impossível dissociar a pandemia da política, lembrei de uma das músicas do Montenegro,

A Lista.

“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você”.

É longa, caudalosa, às vezes pode parecer piegas, mas é do bem.

Do bem mal tem que ser a lista que temos que fazer juntando escrotos, maus-caracteres e filhos da puta. Sem compaixão para apontar esses tipos.
– De quem relativizou os efeitos do coronavírus
– De quem acreditou em charlatões e propagou falsas curas
– De quem duvidou do saturamento dos hospitais
– De quem prescreveu receitas inócuas
– De quem negou uma pandemia mundial
– E, sobretudo, de quem fez isso para justificar a demência de um capitão incompetente, raso, chulo e desumano.

É para botar na boca do sapo.

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