A guerra submarina pelo controle da máquina do PSL

O novo mundo da política brasileira do século 21 traz novidades simultâneas. A nova direita e as redes sociais (palco virtual das disputas) são ingredientes com os quais os políticos estão aprendendo a lidar

Jair Bolsonaro com os filhos Eduardo, Flávio e Carlos - Foto Rafael Carvalho

A guerra submarina do PSL. Uma verdadeira briga de foice no escuro trava-se nas redes sociais, a larga distância das mídias tradicionais.

O embate entre o gabinete do presidente, através de seus filhos, contra a máquina partidária do PSL, visa, efetivamente, o controle do maior espólio eleitoral brasileiro até esta quadra do século XXI. Trata-se do controle da nova direita que emergiu nas últimas eleições votando no programa ultraconservador do presidente Jair Bolsonaro.

O chefe do governo catalizador desta corrente apoia-se em seus filhos, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), o 03, na Câmara, e no senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), o 01, no Senado. Na Câmara, 03 enfrenta o líder da bancada, deputado Delegado Waldir, enquanto, no Senado, 01, mais discreto, procura barrar a influência do líder, Major Olímpio.

Por trás de tudo, opera o chefe da sigla, deputado Luciano Bivar (PSL/PE), que, por lei, detém a chave do cofre de uma verba pública de grande porte. Juntando os fundos partidário e eleitoral, o butim pode chegar aos 500 milhões de reais no ano que vem.

Novo palco de lutas

O fato novo, na crônica política, é que todo esse embate se dá nas redes sociais, basicamente nas telinhas dos telefones celulares. As rádios, o Jornal Nacional, as redes de tevês abertas e a cabo, os grandes jornais nacionais e os regionais, e até os pequenos veículos municipais são apenas coadjuvantes nesses embates.

Não são mais as fontes da imprensa que lançam e conduzem as lutas políticas. É isto que estonteia os políticos, marqueteiros e toda a máquina eleitoral do passado.

O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar – Foto Divulgação

Os velhos políticos procuram montar suas redes, mas operam muito desajeitadamente nesses meios. Apressados, os velhos caciques partidários procuram estouvadamente montar suas páginas na internet, sem entender que os jovens que hoje comandam a opinião pública iniciaram suas redes há anos, ainda adolescentes.

Também essa avalanche eleitoral não se fez de uma hora para outra, embora o sistema não tivesse captado como se deu o seu crescimento. Enquanto se procurava reivindicações e causas para os protestos de 2013, no Brasil eram as redes que botavam a juventude nas grandes avenidas, como atualmente se vê pela quantidade de levantes nas ruas no mundo inteiro, inclusive na América do Sul. É neste campo que se processa a luta interna do PSL.

A família Bolsonaro, acreditando ser a legítima administradora desse formidável capital eleitoral, deu com a cara na porta quando procurou assumir o controle da máquina partidária. O dono, de direito, da legenda, deputado Luciano Bivar (PSL/PE), deu um chega-pra-lá no grupo palaciano, capitaneado pelos filhos do presidente. As bancadas parlamentares (federal e estaduais) cindiram-se diante do poder real do presidente do partido.

Com dinheiro, sem votos

O grande paradoxo: Bivar tem a chave do cofre e seduz uma parte dos parlamentares que pretendem comandar suas facções nas próximas eleições municipais. O trunfo do presidente: sem Bolsonaro a força eleitoral dessas bancadas (federais e regionais), é muito reduzido.

Então, todos gritam, ameaçam dissidências, mas se ajoelham diante do presidente, dizendo-se fiéis a seu governo. Este é o problema do rompimento, ficar sem votos.

A grande dúvida somente será tirada nas urnas: terá o presidente da República a força para, com sua palavra (difundida nas redes pelo vereador Carlos Bolsonaro, o 02), derrubar, uma vez mais, todos os esquemas partidários (incluindo o controle de fundos públicos e tempo de rádio e tevê) que pretendem reassumir o comando político do País?

O plano de resistência é ir para os teclados dos celulares. Chamar o povo às ruas sempre foi uma aposta muito arriscada no Brasil, desde sempre.

As ruas foram o Waterloo dos governantes populistas brasileiros. Como dizia o ex-ministro e senador Roberto Campos: “a popularidade é uma deusa cadela”.

Deixe seu comentário