Hoje seria o dia D para PSDB, MDB e Cidadania anunciarem a chapa única para disputar à presidência da República pela chamada terceira via, só que mais uma vez não houve acordo e não deve ter qualquer anúncio.
A fogueira das vaidades que arde na política brasileira vem queimando em fogo brando a possibilidade dessa união se concretizar, transformando em cinzas a criação de uma alternativa à polarização, cada vez maior, entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde o ano passado a discussão em torno de um nome que viabilize a candidatura única de centro como terceira via vem sendo alimentada. É verdade que muito mais pela própria imprensa do que pelos partidos que compõem o centro democrático. Alguns integrantes das legendas que manifestam interesse em se unir já anunciaram apoio ou a Lula ou a Bolsonaro sem nem esperar o resultado das negociações.
Está certo que os nomes postos não empolgam o eleitorado –até agora ninguém chegou aos dois dígitos. Mas há uma certa rixa entre os próprios candidatos que não se mostram dispostos a ceder em favor do outro. No início de abril houve uma reunião e ficou decidido que o dia 18 de maio seria a data limite para o anúncio da chapa. De lá pra cá não se viu nenhum avanço nas negociações.
Ao longo dos últimos 45 dias, ao invés de buscarem um consenso em torno de propostas que apontem uma saída para a encruzilhada na qual o Brasil se meteu, cada um dos candidatos buscou viabilizar o próprio nome a fim de garantir a indicação do bloco.
A terceira via também vem diminuindo de tamanho ao longo dos meses. Logo que as discussões começaram o Podemos e o União Brasil faziam parte do bloco. Agora, os dois estão longe das conversas.
Depois de atrair o ex-juiz Sérgio Moro para os seus quadros para descartá-lo em seguida, deixando-o de fora da sucessão presidencial, o União Brasil entendeu que o melhor caminho seria lançar a candidatura própria, colocando como opção Luciano Bivar, presidente da legenda.
Bivar sabe que não tem chances. No máximo disputa espaço com o democrata-cristão Emael. Em recente enquete promovida por internautas no Twitter, com a participação de mais de 2.200 pessoas, Bivar foi derrotado de forma acachapante pelo vira-lata Caramelo, que obteve 96% dos votos.
Assim, fica claro que o União Brasil está aguardando apenas a hora certa de aderir à candidatura de Bolsonaro, entregando toda sua estrutura ao presidente. Logicamente não será de graça, não existe almoço grátis, muito menos em política. Mas o capitão já é devedor do partido. Ao tirar Moro do jogo, Bolsonaro ganhou mais pontos na disputa contra o PT.
O astuto Kassab também vem costurando por fora o apoio a quem tiver mais chances de vitória este ano. Assim, não existe a menor possibilidade de o PSD se unir à terceira via. Por enquanto Lula vem ganhando essa disputa. Nesta terça foi divulgada a informação de que o petista já negocia com Kassab a formação de uma chapa em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do Brasil.
No ninho tucano tem bicada pra tudo que é lado. João Doria venceu as prévias do PSDB, mas não levou. Não consegue unir o partido em torno do seu nome e a cúpula já trabalha para que a indicação do candidato da terceira via fique entre Eduardo Leite e Tasso Jereissati. Ao anunciar apoio ao ex-presidente Lula já no primeiro turno, o ex-chanceler Aloysio Nunes, um tucano de alta plumagem, expôs ainda mais o racha no PSDB.
Simone Tebet, embora tenha tido uma boa atuação como senadora e seja uma ótima opção, também não consegue o apoio do próprio partido ao seu nome. Já o Cidadania não tem nenhum nome que possa ser colocado na mesa de negociações.
Assim, graças a vaidade de uns e aos interesses pessoais de líderes partidários colocados acima dos interesses públicos, a possibilidade da terceira via vai se transformando em cinza. Uma pena! Reduzir a eleição as candidaturas de Lula e Bolsonaro limita e empobrece o debate político.
As discussões serão pautadas apenas pelos interesses dos dois. Alguém acha que temas como combate à corrupção, moralidade, ética na vida pública e reforma política terão espaço nessas eleições? Logicamente que não. Os debates serão restritos a acusações mútuas e propostas populistas.
Para quem não tem político de estimação isso é frustrante.