Em 30 de outubro de 1938, marcianos invadiram a Terra. Pelo menos em uma transmissão de rádio que disseminou pânico entre os milhões de ouvintes da CBS nos Estados Unidos. Na verdade, o noticiário veiculado naquela estação de rádio era uma adaptação do livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, narrada por Orson Welles. No início do texto, foi avisado que se tratava de ficção. Mas muitas pessoas só começaram a ouvir depois, com a notícia da queda de um meteoro em uma fazenda e a descoberta de que o “meteoro” era uma nave cheia de alienígenas munidos de raios mortais e inclinados a exterminar a espécie humana.
Em Porto Alegre, recentemente, cidadãos com o celular na testa tentavam se comunicar com as luzes misteriosas que apareceram no céu. Quem sabe seriam extraterrestres que nos salvariam, abduzindo o presidente eleito ou apoiando uma intervenção militar numa performance intergaláctica.
Extraterrestres às vezes amedrontam e às vezes são vistos como amigos. No filme clássico de ficção científica “O dia em que a Terra parou” de 1951, refilmado em 2008, uma nave espacial aterrissa em Washington, DC trazendo o alienígena Klaatu e seu robô Gort. Eles trazem um ultimato aos líderes da Terra para que acabem com as guerras e a corrida armamentista, o que estaria preocupando os habitantes de outros planetas. Como ninguém acredita, Klaatu faz uma demonstração de força, com todos os aparelhos elétricos da Terra parando de funcionar ao mesmo tempo, exceto nos lugares em que isso poderia causar dano, como nos hospitais e aviões em voo.
Seria o sonho dos bloqueadores de estradas: tudo parado. Mas no filme, Klaatu é considerado um perigo para a humanidade e, alvejado, é levado para a nave por Gort para ser ressuscitado e a Terra parada durou apenas um dia e só ressurgiu como música de Raul Seixas.
À direita e à esquerda, há muitos anos, a visão de homenzinhos verdes vindos do espaço e intervindo na política povoa a mente de militantes descrentes das próprias forças humanas e terrestres em atender seus pleitos.
O teórico e revolucionário marxista da década de 60 do século XX, J. Posadas, afirmou que se existissem discos voadores, era sinal de desenvolvimento tecnológico avançado, só possível no socialismo. Por isso, a presença de discos voadores significava, provavelmente, que estes visitantes estavam a serviço da revolução proletária.
À direita, homenzinhos verdes poderiam se misturar aos humanos de fardas verdes num apoteótico desfile de discos voadores e tanques obsoletos pela Praça dos 3 Poderes e inaugurar a Praça dos 4 Poderes, sonhado delirantemente no tal artigo 142, como um poder moderador que não existe.
Existiu como poder único de fato no tempo das casernas, entre 1964 e 1985, na idade da pedra lascada política, quando o país passou por um desligamento democrático que não foi de um dia, mas de 21 anos. Melhor viver na democracia imperfeita de hoje mesmo, sem marcianos, discos voadores e quartos poderes.
Evandro Milet – Consultor em inovação e estratégia e líder do comitê de inovação do Ibef/ES