Em 1988, Doutor Ulysses Guimarães acumulava a presidência da Câmara dos Deputados e da Constituinte. Era, naquela época, ao lado do presidente José Sarney, o grande nome da política.
Eu era fotógrafo da Veja e fui encarregado de resolver a ilustração para uma matéria que abordava a ameaça ao caráter democrático que se esperava daquela Constituição, o procurei e “desenhei” para ele a foto que eu precisava fazer. Ele pensou, pensou e disse-me, com a voz firme e camarada dos sábios:
– Meu caro Brito, o papel de um homem público vai muito além do discurso e do pensamento. Passa também pela imagem.
Às sete da manhã, tal como havíamos combinado, lá estava o Doutor Ulysses no meio da Esplanada dos Ministérios, em frente ao Congresso, pensativo e preocupado. Tal e qual realmente eram seus dias.
(Há dois caminhos para se ilustrar com fotografias uma matéria. Um deles é colher do fato uma imagem sem que se interfira nele em nenhum momento. Outro é, ao contrário, construir intencionalmente uma situação e dela captar a cena de maneira que facilite ao leitor compreensão fácil e rápida da relação do personagem com o tema. Carece da espontaneidade, mas tem a força da verossimilhança.)
Orlando Brito