— O depois não existe, especialmente quando se lida com imagens.Oito anos nos depois, em 1999, eu estava no litoral do Ceará fazendo uma reportagem sobre vacinação. Preocupado em não atrasar a equipe de Ministério da Saúde, deixei para fazer depois uma fotografia que viria martelar minha memória durante um mês. Um menino brincando na praia, em total interação com a natureza. Cumprida a pauta, não retornamos mais ao mesmo lugar. Voltei para casa com a horrível sensação de haver perdido uma cena irrecuperável.
A TransBrasil tinha um voo que saia de Brasília por volta da meia noite e, depois de uma ou duas escalas, pousava em Fortaleza antes nascer do sol. Para me livrar do fantasma da foto perdida, embarquei para o Ceará. Aluguei um automóvel no aeroporto e ainda de manhãzinha estava em Beberibe. Estacionei no mesmo lugar, o paredão da Praia das Fontes. Tal e qual um mês antes, lá estava o menino em seu divertimento rotineiro. Ajudado pela irmã menor que ele, construía pequenos montes de areia e depois observava a orelha das ondas desfazê-los.
Por fim, correu em direção aos arrecifes. Encolhido, deitou-se em uma das poças de água. Aqueles laguinhos miúdos e rasos que se formam quando a maré baixa. Tal e qual eu vira quatro semanas antes. De onde eu estava, sobre o mesmíssimo balcão de falésias, pude enfim fazer a fotografia que deixei para depois, contrariando ao que dissera mestre Iberê Camargo. De volta, no avião, impressionado com a imagem do garoto em forma de embrião, resolvi dar um nome à foto. Terra Mater.