Durante duas horas e dez minutos, Lula ficou frente-a-frente com juiz Sérgio Moro e outros magistrados que o inquiriram no processo em que é acusado de ter recebido propina da empreiteira Odebrecht na transação de compra e venda do terreno onde deveria ser construída a sede do instituto que leva seu nome, em São Paulo. E também por receber um apartamento vizinho ao que mora, em São Bernardo do Campo.
Apesar das expectativas, dessa vez não houve respostas e declarações surpreendentes. A não ser quando Lula falou de seu ex-ministro e companheiro de partido, Antonio Palocci, que, na semana passada também em depoimento na Operação Lava-Jato, acusou o ex-presidente de praticar atos de corrupção.
Luís Inácio da Silva disse que Palocci é “frio e calculista”. E que se “não fosse um ser humano, seria um simulador”. O ex-presidente se referia às acusações de seu ex-colega de governo e do PT, quando este afirmou na inquirição da semana passada que Lula havia feito um pacto de sangue com o proprietário da empreiteira Odebrecht no qual ele receberia propina que atingiria 300 milhões de reais.
Segundo Lula, “quem fez pacto de sangue com os delatores, com os advogados e talvez com o Ministério Público” foi Antonio Palocci. E que a “a única coisa que tem de verdade ali é ele (Palocci) dizer que está fazendo a delação porque quer os benefícios da delação. Ou quem sabe ele queira um pouco do dinheiro que vocês bloquearam dele”. Disse, enfim, que o depoimento é cinematográfico.
Num determinado momento do depoimento, o juiz Sérgio Moro repreendeu o ex-presidente pedindo-lhe que se dirigisse à magistrada Isabel Cristina Groba Vieira, que o interrogava, não como “querida”, mas como “senhora juíza” ou “doutora”.
Lula também questionou Moro. Perguntou-lhe “se podia olhar para seus filhos e netos e dizer que havia ido a Curitiba prestar um depoimento a um juiz imparcial”. E doutor Sérgio Moro respondeu-lhe: – Primeiro, não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta pra mim, mas, de todo modo, sim.
O ex-presidente chegou de automóvel ao prédio da Justiça Federal de Curitiba pouco depois das duas da tarde. Desembarcou do carro para cumprimentar manifestantes que foram aplaudi-lo e subiu para a sala audiência. Por volta das quatro e meia, após seu depoimento, Lula participou de um rápido encontro com militantes numa praça do centro de Curitiba e, sem seguida, seguiu de carro para São Paulo.