Toda cerimônia na agenda de um presidente da República oferece uma enorme variedade de “olhares”. É tão grande o volume de personagens, situações, discursos, interesses e encontro entre os participantes que as conjecturas abundam. E não é diferente agora em tempos de crises variadas e de Jair Bolsonaro è frente do Palácio Planalto.
Nessa terça-feira, por exemplo, aconteceu o evento de lançamento do programa “Casa Verde Amarela”, com o qual o governo pretende beneficiar moradores de baixa renda. Versão atualizada do “Minha Casa Minha Vida” da Era PT. Na verdade, o projeto é parte do Plano Mais Brasil, idealizado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que abrange várias áreas — a educação, saúde, segurança, transportes etc.
Os efeitos da pandemia agravaram a situação de milhares e milhares de brasileiros e suas famílias e o governo pôs em ação um programa de ajuda financeira para pessoas carentes, desempregados, pequenos empresários em dificuldade financeira. A distribuição de benefícios, evidentemente, melhorou, segundo pesquisas, a aceitação popular de Jair Bolsonaro, principalmente nos estados do Nordeste.
Logicamente, o presidente e seus auxiliares mais próximos encantaram-se com o fato. Porém, a história não para por aí. Esbarra no perfil e limites que o ministro Paulo Guedes estabeleceu para tornar também sucesso seu projeto de estabilização da economia. Como é bom lembrar, há poucos dias houve abertamente discordâncias entre ele e demais colegas do governo sobre o tal teto de gastos, determinado pela Constituição. O tema embora complexo, não é muito difícil de compreender.
É projeto que depende, contudo, de tramitação e discussão no Congresso. E é justamente aí que começam os problemas porque, obviamente, requer a aprovação pelos parlamentares. E como conseguir tal aprovação no Legislativo? A resposta é uma só: apoio no plenário, maioria. Para isto, Jair Bolsonaro correu atrás de garantir o sucesso com os deputados e senadores do sempre bloco resolvedor de situações, o Centrão.
Isto vai de encontro à promessa do candidato Bolsonaro de não aliar-se ao modelo de comportamento da chamada velha política. Mas em nome de garantir sua popularidade, o presidente incorporou o Centrão. Não é à toa que os principais líderes desse bloco estavam presentes à cerimônia dessa terça-feira no segundo andar do Planalto.
O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, é a favor de que o governo seja mais benevolente, distribua mais benefícios. Já seu colega Paulo Guedes, não. Acha que é dinheiro demais e afeta seu programa de controle de gastos. O certo é que no evento da terça-feira, estavam no Planalto o senador Ciro Nogueira e o deputado Arthur Lira, comandantes do Centrão para aplaudir o “Casa Verde Amarela”. Guedes não compareceu.