Não se conhece ainda as verdadeiras razões do adiamento — com jeito de ser definitivo — da filiação de Jair Bolsonaro ao PL. Enquanto Valdemar Costa Neto, dono do Partido Liberal, não divulga o teor da “intensa troca de mensagens” com Sua Excelência na madrugada desse domingo, 14, em viagem a Dubai, fazem-se muitas conjecturas.
O que se sabe até agora é parte do que declarou Bolsonaro. Durante a visita com sua comitiva a uma feira de aviação nos Emirados Árabes, considerou difícil a filiação em 22 de novembro: — Tenho conversado com ele (Valdemar), e estamos em comum acordo que podemos atrasar um pouco esse casamento para que ele não comece sendo muito igual os outros. Não queremos isso.
Conta-se mais sobre o diálogo por mensagens de zap entre ambos. Teve até troca de palavrões e impropérios extensivos aos filhos do senhor que preside o Brasil. A ponto de a reconciliação do que Bolsonaro chama de casamento ser agora impossível.
Aliados de Valdemar avaliam que as mensagens de madrugada e a entrevista de Bolsonaro seriam a busca de pretexto para a ruptura, porque tanto os palanques do PL em São Paulo como em Pernambuco já estavam incluídos no acordo entre eles. Se Bolsonaro quisesse mesmo alguma alteração teria negociado discretamente com Valdemar. De acordo com esses interlocutores com o presidente do PL, a aliança entre eles teria repercutido mal entre os apoiadores de Bolsonaro com a possibilidade parte deles migrarem para Sérgio Moro. O vereador Carlos Bolsonaro, o Carluxo, teria alertado o pai sobre o risco de uma debandada.
A não ida de Bolsonaro para o partido de Valdemar Costa Neto gerou um rosário de suposições. A notícia ao mesmo tempo inesperada e prevista leva os analistas da cena política fazerem contas.
Outros dizem que o rompimento se deve ao fato de Bolsonaro não abrir mão da autonomia de escolher nomes de sua preferência para a disputa tanto ao Senado quanto aos governos estaduais. Outros afirmam exigir que o PL tenha discurso mais à direita. Há quem diga que não aceita o partido apoiar em nenhum estado qualquer candidato da oposição, especialmente do PT. E também que é briga por controle de caixa da agremiação. Valdemar da Costa Neto, por seu lado, não concordaria com nenhum dos itens.
Algumas vezes em cerimônias no Palácio Planalto ou em viagens, Jair Bolsonaro insinua seu desejo de indicar seu ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para disputar o Senado ou o governo de São Paulo. Logo São Paulo, estado em que Valdemar estaria fechando com o PSDB acordo para eleger Rodrigo Garcia, vice de João Dória.
Circula notícia de que as portas do PTB de Roberto Jefferson abriram-se ainda nesse domingo para o futuro de Jair Bolsonaro.
Há, contudo, quem garanta que Bolsonaro, na verdade, diante das pesquisas que apontam a inviabilidade de sua reeleição, está e estará descartando sua própria candidatura ao Planalto. No fundo, vai ficar dificultando a entrada em qualquer partido. E que sonha mesmo é com a aprovação do projeto que começa a tramitar no Congresso para tornar os presidentes da República senadores vitalícios, com foro privilegiado. Aliás, bom lembrar, no caso de essa proposta ser aprovada, contemplará também Lula, além dos demais ex: José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Será?
Essa pergunta-dúvida ainda não tem resposta. Mas está levando muitos interessados na corrida presidencial de 2022 a recalcular a rota. No caso de essa premissa aí de cima acontecer — de Bolsonaro não concorrer ao Planalto — será que o Centrão, do qual o PL é integrante, vai ficar de braços cruzados, sem embarcar em uma das candidaturas já postas? Com certeza, não. Ou irá para o PSD de Kassab, para o PT de Luís Inácio, para o PDT de Ciro? ou Para o Podemos de Moro?
Será? Tudo, a essas alturas, é possível.