A propósito da Reforma Eleitoral

Fernando Collor usou as carreatas como maneira de ganhar votos na eleição de 1989. Foto Orlando Brito

As primeiras carreatas e debates, o marketing nas campanhas

A Comissão da Reforma Política da Câmara Federal está trabalhando a todo vapor para concluir a etapa inicial do conjunto de mudanças das regras eleitoras para as futuras eleições. São exaustivos debates e discussões que em breves dias se transformaram em proposta a ser apreciada e votada pelos plenários não somente pelos deputados, mas também no Senado.

Várias propostas estão em debate. O fim das coligações partidárias, a redução do número de partidos, o fim ou não de suplentes para senador, adoção do voto distrital, a manutenção do sistema proporcional para se eleger um parlamentar e, principalmente, o fundo eleitoral. Ou seja, sai o financiamento privado e livre das campanhas e entra o caixa oficial de três bilhões de reais. Muita gente critica as “mudanças”, crendo que a reforma não reforma nada.

Para estabelecer um comparativo com eleições passadas e as futuras, resolvi voltar a 1989, importante momento para a democracia brasileira. Às primeiras campanha, a pós 21 anos sem eleição direta para presidente da República. O povo brasileiro havia perdido muitas referências democráticas. Porém, com a volta das eleições diretas em 1989, as ruas do País ganharam novo colorido, com as campanhas eleitorais a todo vapor.

Ronaldo Caiado preferiu campanha menos sofisticada. Foto Orlando Brito

Vinte e dois candidatos concorriam à principal cadeira do Palácio do Planalto. Tinham os mais diversificados perfis. Uns eram políticos. Outros, não. Havia ex parlamentares, ex governadores, professores, empresários e aventureiros. O médico e fazendeiro em Goiás Ronaldo Caiado foi à luta e tornou-se conhecido nacionalmente. Havia nomes que se exilaram no Exterior por conta do regime militar. Com a Anistia, puderam retornar ao Brasil e candidatar-se. Brizola, por exemplo.

Ulysses com Gonzales e Sílvia Popovic. Foto Orlando Brito

Mário Covas, pelo PSDB. Paulo Maluf, pelo PDS. Roberto Freire, pelo Partido Comunista Brasileiro. Fernando Gabeira, pelo Partido Verde. Pela primeira vez uma mulher se candidatava ao Planalto. Era a mineira Lívia Maria, do Partido Nacionalista. Havia também um candidato vindo da base sindical, o metalúrgico Lula. Doutor Ulysses Guimarães concorreu pelo PMDB. Sua campanha também aderiu aos novos tempos. Adotou os marqueteiros Geraldo Walter, o Geraldão,  e Luiz Gonzales e contratou apresentadora famosa, a Silvia Popovic, para ancorar seu programa na tevê.

Fernando Collor tinha 40 anos. Jornalista, poliglota. Possuía visão moderna e atualizada das eleições que aconteciam mundo a fora. Foi com base no que havia visto em outros países que Collor formatou sua campanha. Introduziu o marketing eleitoral, aderiu aos showmícios, inovou a aparição do programa do TSE na tevê e revitalizou as carreatas. Pela primeira vez, o debate entre candidatos ia ao ar em rede nacional de tevê.

Lula em uma de suas carretas. Foto Orlando Brito

Para os candidatos desenvolverem suas campanhas como queriam vieram, em consequência, as chamados verbas de colaboração empresarial. Após meses de eletrizante campanha, o vencedor do pleito foi Fernando Collor de Mello, que já tinha sido prefeito de Maceió, governador de Alagoas e deputado federal. Obteve pouco mais de 35 milhões de votos.

Bem, eleito, Collor acabou sofrendo impeachment. Outras eleições vieram, todas com a presença e reforço de verbas que ganharam o nome de Caixa 2, antes chamadas “colaboração de adeptos” nas campanhas. Como se sabe isto degringolou, virou escândalo, resultou em processos, condenações e prisões.

Alguém tem certeza de que as novas regras serão eficazes para as futuras eleições?

 

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