Vendo agora a estrondosa repercussão do episódio em que se meteu o ministro do Supremo Alexandre de Moraes ao determinar a retirada de reportagens dos sites O Antagonista e Crusóe, lembrei-me de quando a Internet e as redes sociais nem existiam, mas a censura sim.
Como vimos durante a semana passada, o resultado da peça jurídica do ministro da Suprema Corte — com o objetivo de contrapor ataques de fake news à Justiça e de não expor possível envolvimento do presidente do STF, Dias Toffoli, com negócios da empreiteira Odebrecht — gerou a reação de um sem número de segmentos da sociedade e nomes de importantes do país.
Com a gigantesca repercussão em favor da liberdade de imprensa e de expressão, na quinta-feira o magistrado decidiu voltar atrás em sua própria decisão, revogando-a. Não se sabe ainda o dano causado pelo triste episódio, que só teve o resultado que se viu por conta da força, eficiência e velocidade do sistema de comunicação dos novos tempos, a Internet e as redes sociais.
Em 1968, o Brasil vivia sob os rigores do regime militar. O então presidente, Marechal Arthur da Cosa e Silva, decretou o AI-5, Ato Institucional que permitiu ao governo cassar parlamentares, fechar o Congresso, proibir reuniões de caráter político, suspender o instituto do habeas-corpus e impor censura ao teatro, à música, ao cinema e à imprensa.
No ano seguinte, com o Parlamento novamente em funcionamento, uma comissão da Câmara recebeu figuras de renome para debates sobre a democracia. O cartunista Ziraldo, um dos destaques do jornal O Pasquim, lá compareceu para protestar contra a censura. Naquela época não havia a força da Internet e das redes sociais.
Ziraldo valeu-se de uma cartolina com letras escritas com os “modernos” pincéis atômicos para denunciar a censura. Eu era um jovem fotógrafo que cobria os lances do poder e fiz esse clic precioso para a história.