Morreu Dom Pelé, lendário líder da Igreja

O arcebispo José Maria Pieres, Dom Pelé. Orlando Brito

Na época da ditadura, os militares não tiravam os olhos de três cardeais: Dom Hélder Câmara, Dom Antônio Fragoso e Dom José Maria Pires, também chamado de “Dom Pelé”. Formavam a “Tríade Vermelha”, por serem considerados da ala progressista da Igreja. Dom Hélder teve um secretário preso, torturado e morto. Dom Fragoso era seguido pelos espias e tinha os sermões gravados.

Já Dom Pelé, arcebispo de João Pessoa, era considerado subversivo. Ao assumir o prelado da Paraíba, renunciou ao Palácio Episcopal, trocando o luxo pela simplicidade.

A última vez que vi Dom Pelé havia sito em 1970. Foi durante uma reportagem sobre a Missa do Vaqueiro celebrada por ele no sertão paraibano. Na ocasião, ele praticamente não tinha cabelos brancos, vestia batina surrada, estava descalço e tinha um chapéu de couro na cabeça. Mas no dia dessa foto aí, no Rio Grande do Norte, durante a visita do Papa João Paulo II, Dom José Maria Pires era um senhor já grisalho e impecável em sua roupa preta de arcebispo.

Recordei-me de quando Dom Pelé encerrava sua pregação:
– Irmãos, ide em paz e abençoados por Olodum e Oxalá, que são o Deus Todo Poderoso e o Senhor do Bonfim.

Depois, quando fui retratá-lo, mencionei sua elegância. Com um breve sorriso, disse:
– Fiz uma exceção para rever um velho conhecido, o cardeal Karol Wojtyla, que também participava do Concílio Vaticano II, em Roma.

Dom Pelé faleceu anteontem aos 99 anos, em Araçuaí, pequena cidade no interior de Minas Gerais, onde nasceu.

OrlandoBrito

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