Dra. Mayra Pinheiro negou que Jair Bolsonaro tenha lhe recomendado o uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid enquanto esteve em Manaus, no início do ano. O relator da Comissão, senador Renan Calheiros, entretanto, afirmou ao fim da sessão, que colheu onze inverdades e contradições em seu depoimento. Uma delas é o choque de datas em que o general Eduardo Pazuello declarou na CPI ter tomado conhecimento da falta de oxigênio na rede hospitalar da capital amazonense que culminou com a morte de dezenas de pessoas em janeiro passado. Ele disse dia 10 de janeiro. Ela, dia 8.
Conhecida como Capitã Cloroquina, Mayra Pinheiro é a secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde. Chegou ao Senado para depor na CPI da Pandemia com um habeas-corpus, salvaguarda expedida pelo Supremo Tribunal Federal para decidir se fazia ou não declarações que pudessem incriminá-la quanto à sua participação na crise da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e na receita de cloroquina como tratamento precoce da Covid. Entretanto, não deixou de responder a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas.
A uma indagação que requeria dela opinião sobre nomes do governo — por exemplo, Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello –, Mayra Pinheiro respondeu que comparecia à CPI como técnica e por isto não faria avaliação sobre o comportamento de personagens do poder. No campo das contradições, disse achar que o Ministério não deve, em busca de cura da Covid, necessariamente, seguir as orientações da OMS-Organização Mundial da Saúde nem das instituições estabelecidas da área. Mas da ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sim. Ficou também em conflito a retirada de funcionamento o serviço denominado TratCov, que recomendava prescrição de medicamentos para pacientes durante a pandemia. O ex-ministro-general, quando esteve no Senado, disse que foi ela a criadora do aplicativo. E ela, que foi a equipe sob seu comando.
Mayra Pinheiro acha que a vacina não deve ser considerada a única maneira de precaução contra o Coronavírus e diz-se — tal como Jair Bolsonaro — contrária às medidas de lockdown e da suspensão das aulas presenciais nas escolas. Defendeu que cabe a cada médico optar pelo uso do tratamento precoce no início da Covid-19. Bom lembrar que os cientistas e pesquisadores não reconhecem esse tratamento como via eficaz e indicada para a cura.
Nessa quarta-feira a Comissão não programou ouvir nenhum depoente. Faz reunião para avaliar 400 requerimentos à espera de decisão: novos nomes a serem convocados para falar, inclusive a volta à CPI do ex-ministro-general Pazuello, que no domingo passado esteve na manifestação pró-Bolsonaro, ambos sem máscaras e em uma grande aglomeração no Rio de Janeiro. Na quinta, começa a série de oitivas de especialistas em saúde. O primeiro deles será o Dr. Dimas Covas, do Instituto Butantan.
Está também na pauta dessa quarta-feira uma questão que vai dar muita discussão: a convocação pela CPI de governadores e prefeitos. Isto é desejo dos senadores que apoiam o governo porque desejam estender a investigação à área dos administradores estaduais e municipais. Porém, para alguns juristas, pode oferecer também a possibilidade de inclusão à lista de depoentes o Presidente da República, tomando como base o Código do Processo Penal.
O número de mortos pela Covid no Brasil ultrapassa 452 mil. E o de infecções, beira a 17 milhões.