Luiz Gonzaga dizia que só reclamava da vida nas músicas que cantava e nas letras que compunha. Tinha suas razões. Um fato desagradável em sua juventude mudou radicalmente seu destino. Quando era rapazote no sertão de Pernambuco, encantou-se por uma moreninha chamada Nazarena, filha de um certo coronel Deolino, tido como homem brabo da região. Levou uma carreira do pai da moça. Inconformado, jurou de morte aquele que queria para sogro. Para evitar o desatino do filho, seu Januário e dona Santana, pais de Luiz, deram-lhe uma surra.
Envergonhado, o jovem Luiz abandonou Exu, a cidadezinha em que nasceu. Foi para o Crato, terra do Padre Cícero, no Ceará. Alistou-se no Exército. Como soldado, teve a chance de viajar por vários estados do Brasil. Reparou que nem tudo em sua vida estava perdido. Havia coisas maiores que a perda da saudosa Nazarena.
De passagem por Minas, conheceu Domingos Ambrósio, acordeonista clássico. Com ele melhorou seu domínio da sanfona, agregando o estilo do velho Januário, exímio tocador de quatro baixos em Exu. Saiu do Exército e entrou na vida artística.
Luiz Gonzaga começou a tocar na zona boêmia do Rio e não tardou a transformar-se em um dos maiores cantores e compositores da histórica do Brasil. Arrasou no programa de Ary Barroso, enchia o auditório da Rádio Nacional, dos cassinos do Rio e São Paulo, virou sucesso internacional, com reportagens nos jornais, programa na tevê. Repertório de fazer inveja a qualquer artista.
Com parceiros de primeira qualidade, produziu músicas de rara poesia, dentro da característica regional. “Asa Branca”, “Assum Preto”, “Cintura Fina”, “Boiadeiro”, “Ovo de Codorna”, “Xanduzinha”… Mil. Lançou e relançou ritmos. Tocou de tudo. Valsa, baião, choro, samba, fox, bolero, mazurca, xaxado, xote, embolada, vira-e-mexe. Virou o “Rei do Baião”. Celebridade.
Só era importante a pessoa que tivesse foto ao lado de Gonzaga. Aliás, Luiz adorava tirar retrato. Estava no seu álbum com os presidentes Getúlio, Dutra, Café Filho, Juscelino, Jango. Todos.
Com Gonzagão, o forró ganhou espaço definitivo na cultura brasileira. Porém, a carreira que levou do pai da donzela Nazarena, a morena que seria seu primeiro amor, nunca lhe saiu da lembrança. Ao invés de reclamar daquela perda, teve muitos amores. De um deles, nasceu Luiz Gonzaga Nascimento Júnior, o “Gonzaguinha”, falecido em 1991.
Depois, casou-se com a conterrânea Helena, com quem viveu até seus últimos dias, em 1989, aos 77 anos. Morreu orgulhoso de abrir as fronteiras da música do Nordeste para o mundo. E que isto só foi possível por conta de um acontecimento que, a princípio, era motivo para reclamar da vida.
Orlando Brito